quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Natal: um menino nos nasceu!



Nesse dia de Natal, sinto-me impulsionado a escrever acerca de tão bela história e, ao mesmo tempo, sou incentivado a dirimir dúvidas ligadas a uma tendência que infelizmente tem se tornado moda na atualidade, a saber, a rejeição da celebração do Natal por parte de seitas e igrejas neo-pentecostais.

De fato, sou contra a secularização do Natal que vivemos em nosso tempo. Não estou de acordo com o aproveitamento de uma data tão especial para a cristandade de uma forma tão voltada para o comércio, o lucro, o desperdício e as bebedeiras. É ridículo o fato de que, no Natal, a primeira imagem que vem à mente seja a do Papai Noel, imagem esta ressuscitada pelo capitalismo consumista americano e que acaba por ofuscar o brilho de Jesus nessa época do ano.

Além de tudo isso, deparamo-nos com seitas heréticas que rejeitam o Natal como sendo uma festa pagã. Assistimos também uma “guerra interna” quanto à celebração do nascimento de Jesus existente entre Igrejas reformadas tradicionais e os inúmeros grupos evangélicos neo-pentecostais. Estes últimos, por sua vez, passaram a atacar duramente os cultos natalinos das Igrejas tradicionais, enfatizando que são “pagãos e satânicos”.

Os argumentos dessas igrejas, desprovidas de tradição reformada histórica, giram em torno basicamente de quatro fatores: a falta de prescrição bíblica para celebração do Natal, a incerteza da data exata do nascimento de Jesus, a origem pagã da festa nessa data e a introdução de elementos pagãos ao longo do tempo na tradição do Natal.

Ora, é verdade que a Bíblia não prescreve a comemoração do nascimento de Jesus, porém acredito que isto se deve ao fato de que naquela cultura ninguém dava muita importância para a data do nascimento de alguém, mas sim ao ano em que nascia e o ano em que morria. Hoje se sabe que Jesus nasceu entre 6 a.C a 4 a.C., porém historicamente não se leva em conta a data específica do Seu nascimento. Ademais, o que realmente importa é o fato de que Ele nasceu e, embora a Bíblia não prescreva a comemoração por esse fato, ela também não a proíbe. Anote-se que os anjos e pastores celebraram a noite divinal do nascimento de Jesus, os magos adoraram o menino nascido, o céu se manifestou com o marcante brilho de uma estrela, ou seja, não é errado nos alegrarmos e celebrarmos o nascimento do nosso Salvador.

A celebração do Natal é uma grande oportunidade para esclarecermos a doutrina da Encarnação do Verbo (João 1.1-14) e a divindade de Jesus Cristo. A data exata desse evento é o que menos importa. Sabe-se que se convencionou que no dia 25 de dezembro os cristãos deveriam lembrar e celebrar o nascimento de Jesus Cristo. Na verdade, nesse dia era comemorado em Roma o “Dies Natalis Invicti” (Nascimento do Sol Invicto), isto é, os romanos comemoravam o solstício de inverno, a festa da saturnália, em homenagem ao deus-sol. Nessa festa havia um verdadeiro carnaval onde reinavam a orgia, a glutonaria e a bebedeira.

A partir do IV século d.C., as religiões politeístas de Roma já estavam em crescente decadência, assim como o próprio Império Romano. Nessa época, o cristianismo crescia pelo mundo. Muitos cristãos sinceros aproveitavam a festa pagã em que se reverenciava o sol, para pregar o Evangelho de Jesus Cristo. Mais tarde, o cristianismo passou a ser a religião oficial do Império Romano sob determinação do Imperador Constantino que teria se convertido. Cada vez mais a festa ao deus-sol declinava e o cristianismo ascendia até que se chegou ao tempo em que ninguém mais se lembrava da saturnália, o deus-sol deixou de existir, Jesus Cristo tomou completamente o seu lugar. O paganismo foi derrotado e o cristianismo prevaleceu, e isso é motivo para comemorarmos.

Deixar de comemorar o nascimento de Jesus pelo fato de que no dia 25 de dezembro se comemorava uma festa pagã na antiguidade é, no mínimo, um argumento sem sentido. Imaginemos que ao invés de nos retirarmos durante o carnaval em acampamentos e hotéis, todos nós protestantes nos uníssemos para realizar grandes eventos evangelísticos em todas as cidades brasileiras. Impactos evangelísticos por toda parte dizendo que a partir de então a quarta-feira de cinzas passaria a se chamar de quarta-feira da vida! Imaginemos, ainda, que com o passar dos anos as comemorações pela vida com Jesus tomassem grandes proporções e ninguém mais quisesse saber do carnaval! Imaginou? Pois bem, foi o que aconteceu com a saturnália e o Natal. O deus-sol invicto foi vencido por Jesus, o Sol de eterno fulgor!

Outra crítica bastante comum que se faz acerca do Natal está relacionada com os símbolos dessa época, tais como a árvore de Natal, o presépio, os alimentos especiais, as músicas, o Papai Noel, etc. Quanto a isso, é importante que se diga que tais símbolos têm mais um aspecto decorativo do que religioso. A maioria dos símbolos do Natal foi introduzida pela cultura da América do Norte.

No período do Natal nos Estados Unidos, em boa parte do seu território, há muita neve e isto muda muito a rotina das pessoas e da própria natureza. As pessoas saem pouco de casa. As árvores perdem suas folhas devido à neve e aos fortes ventos. Nesse cenário, uma das únicas árvores que se mostram resistentes são os pinheiros, por sua própria estrutura de galhos flexíveis e ao mesmo tempo muito resistentes.

Nessa época do ano, não se tem muito o que fazer na rua, por isso as comemorações do Natal se dão principalmente nas igrejas e nas casas em família. As pessoas costumam enfeitar seus lares com luzes e pinheiros. O costume de se utilizar luzes e velas simboliza que Jesus, a luz do mundo, nasceu. Embora essas tradições não estejam na Bíblia, não há pecado algum em adornar nossas casas e igrejas para proclamar de forma bela que Jesus nasceu! Afinal, há muita coisa que a Bíblia não prescreve e mesmo assim nós realizamos. Será que é justo e coerente não celebrarmos evento tão importante como o Natal?

O que devemos retirar do Natal são os elementos pagãos que ao longo do tempo foram introduzidos de forma errada como, por exemplo, o Papai Noel, o “bom velhinho” que distribui presentes para as crianças e que ofusca o brilho do Natal fazendo, na realidade, um grande apelo ao consumismo próprio do capitalismo. Outra figura que não faz parte do Natal é o presépio, que nada mais é do que o resultado da cultura idólatra da igreja católica de sempre utilizar imagens de escultura para representar relatos bíblicos.

Destarte, o verdadeiro sentido do Natal deve ser lembrado e celebrado com alegria por todos os cristãos. A profecia de Isaías há centenas de anos antes de Cristo se cumpriu: “O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz. Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”. (Isaías 9:2,6 – 734 a.C.).

A rejeição pela celebração do Natal não tem respaldo histórico-teológico. Quem não ama o Natal e sempre odiou o nascimento de Jesus foi o Satanás. O inimigo ainda hoje luta para que essa data seja apagada da memória da humanidade. Se nós que somos a Igreja do Senhor deixarmos de celebrar o Natal, quem dirá ao mundo que um dia Jesus nasceu para garantir a concretização do plano de Deus para com o homem? Não deixemos que a luz do Natal se apague!

É Natal! Natal é o dia em que o divino se torna humano, é o dia em que o eterno se torna histórico, é o dia em que o desconhecido se torna conhecido. Natal significa que Deus se identifica com a condição humana, significa que há um propósito para a história e que Deus nos revelou os propósitos mais profundos do Seu coração! Celebremos o Natal com alegria! Um menino nos nasceu! Nasceu Jesus, nasceu o nosso redentor!

André G. Bronzeado.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A Reforma Protestante e as suas principais causas (Parte II)


- Como dito anteriormente (parte 1 do estudo), o palco para a Reforma Protestante do século XVI já estava montado. Na Europa, era notório o espírito de independência e de reforma que se despertava, porém a chama desse movimento começou a arder de fato na Alemanha, sob a liderança do monge agostiniano Martinho Lutero, professor da Universidade de Wittenberg.
- Preliminarmente, quero transcrever importante trecho do livro “História da igreja cristã(1)” que de forma objetiva resume o clima em que vivia a Alemanha no início do século XVI: “O papa reinante, Leão X, em razão da necessidade de avultadas somas para terminar as obras do templo de S. Pedro em Roma, permitiu que um seu enviado, João Tetzel, percorresse a Alemanha vendendo bulas, assinadas pelo papa, as quais, dizia, possuíam a virtude de conceder perdão de todos os pecados, não só aos possuidores da bula, mas também aos amigos, mortos ou vivos, em cujo nome fossem as bulas compradas, sem necessidade de confissão, nem absolvição pelo sacerdote. Tetzel fazia esta afirmação ao povo: “Tão depressa o vosso dinheiro caia no cofre, a alma de vossos amigos subirá do purgatório ao céu”. Lutero, por sua vez, começou a pregar contra Tetzel e sua campanha de venda de indulgências, denunciando como falso esse ensino” (pág. 141).
- Pois bem, a citação acima retrata a “ponta de um grande iceberg” de heresias que caracterizavam o catolicismo romano. Como é sabido, desde o século IV quando a igreja católica romana surgiu como igreja institucionalizada e a igreja oficial do Império Romano, um grande processo de paganização invadiu a igreja de Cristo que até então se mantinha reta. Devido a uma grande quantidade de ensinos heréticos e práticas pagãs que se introduziram na igreja durante anos, vários cristãos sinceros procuraram promover, ao longo dos séculos, uma reforma na igreja cristã, como vimos na primeira parte do presente estudo; porém grande parte desses homens e mulheres de Deus foram mortos de maneiras terríveis por parte do alto clero romano que vivia mergulhado em iniqüidades.
- Digo isto, porque não podemos resumir como motivo principal da Reforma Protestante, a venda de indulgências realizada por Tetzel na Saxônia. Isto foi o mínimo! Foi apenas uma questão pontual, um escândalo. Na realidade, a igreja romana não possuía mais as marcas do cristianismo puro e verdadeiro. Sua essência era corrupta e encoberta por uma máscara de falsa santidade.
- Lutero não foi o primeiro a enfrentar essa situação, como já estudamos. Porém, é válido salientar que Lutero encontrou um cenário oportuno no qual uma série de fatores corroborou para o sucesso do movimento. O fator político, por exemplo, pode ser considerado como uma das causas indiretas que colaboraram com a eclosão da Reforma, uma vez que o ideal universal (hierarquia internacional da igreja romana) colidia com a consciência nacional das classes das novas nações-estados no noroeste da Europa. A idéia de igrejas nacionais trazida pela Reforma estava em harmonia com o pensamento de independência política e também religiosa dessas nações.
- O fator intelectual também contribuiu de forma marcante, tendo em vista que homens de mentes lúcidas e secularizadas adotaram uma postura crítica à vida religiosa proposta pela igreja católica romana nos seus dias. O humanismo da Renascença criou um espírito secular, crítico e investigativo que começou a enxergar novos horizontes de forma separada dos preceitos religiosos.
- O fator moral também foi de suma importância e decorre do fator intelectual, uma vez que os indivíduos passaram a ler o Novo Testamento de forma investigativa e na língua original (grego), percebendo claramente as discrepâncias existentes entre a Igreja sobre a qual liam no Novo Testamento e a igreja católica romana que viam no seu tempo.
- Por outro lado, acima de todos esses fatores e até mesmo de outros mais que possam existir, o fator principal para dar sentido à Reforma Protestante, foi o fator teológico e filosófico. A priori, urge mencionar que a igreja medieval adotou a filosofia de Tomás de Aquino que, por sua vez, ensinava que a vontade do homem não estava totalmente corrompida, isto é, o homem poderia alcançar a salvação através da fé acompanhada pela administração de sacramentos ministrados pela hierarquia clerical romana. Ao contrário dessa descabida heresia, Santo Agostinho, este sim coerente com a Bíblia, cria que a vontade do homem estava de tal modo depravada que ele nada poderia fazer por sua salvação. Deus outorgava ao homem a sua graça irresistível para dinamizar sua vontade a fim de que pudesse, pela fé, aceitar a salvação que Cristo lhe oferecia. A teologia de Santo Agostinho inspirou Lutero na doutrina de justificação pela fé baseada, sobretudo, no capítulo 1 da carta do Apóstolo Paulo aos Romanos.
- Em síntese, a causa teológica da Reforma Protestante foi o forte anceio dos reformadores de voltarem à fonte da fé cristã, isto é, voltar à essência da Palavra de Deus, a fim de refutar a teologia tomística que ensinava que a salvação era obtida através de sacramentos ministrados pela hierarquia da igreja romana, bem como refutar as heresias que formavam - e que ainda formam - o complexo doutrinário da igreja católica romana, totalmente afastado da Bíblia Sagrada.
- A venda de indulgências foi, portanto, apenas um escandaloso abuso que consistia em adquirir com dinheiro um documento que conferia o perdão de pecados. Diante desse abuso diabólico, no dia 31 de outubro de 1517, pela manhã, Martinho Lutero afixou na porta da Catedral de Wittenberg, um pergaminho que continha 95 teses, em sua maioria relacionadas com a venda de indulgências e a autoridade do papa. Os dirigentes da igreja católica tentaram em vão restringir Lutero, porém este se manteve firme e resoluto, mesmo diante dos ataques constantes que sofreu. Este famoso protesto de Lutero desencadeou vários acontecimentos que resultaram na Reforma na Alemanha, movimento este que se espalhou pelo norte e oeste da Europa.
- Destarte, a Reforma Protestante não foi um movimento isolado, mas está inserido em um contexto de grande importância para o desenvolvimento da humanidade, a saber, a Renascença ou o Renascimento somado a outros movimentos decorrentes desse período e que forçaram o nascimento da era moderna no século XVI, sepultando assim a Idade Média em todas as áreas, incluindo-se nestas, a religião.
- Nasceram, portanto, no campo da religião, as igrejas protestantes e todas elas tinham a Bíblia Sagrada como fonte de autoridade final. Lutero conservou em sua liturgia várias práticas não proibidas pela Bíblia. Na segunda fase da Reforma, o grande teólogo do período, João Calvino, inspirou as igrejas reformadas e presbiterianas na França, Holanda, Escócia, Suíça e Hungria a refutarem todas as práticas que não estavam de acordo com a Bíblia Sagrada. Mais radicais ainda, os anabatistas, que segundo alguns historiadores deram origem a uma parte dos Batistas, fizeram uma ruptura bem mais radical, pois procuraram criar uma igreja segundo os padrões do Novo Testamento. No final do século XVI na Inglaterra surge o movimento separatista (reforma radical) promovido pelos puritanos, originando as igrejas congregacionais independentes e separadas do Estado, e também os presbiterianos. Os congregacionais e presbiterianos, mais tarde, foram os pioneiros na evangelização da América do Norte (Pais Peregrinos), bem como na América do Sul (Brasil).
- Damos graças a Deus por Sua fidelidade com aqueles que defenderam e que ainda defendem a verdade, colocando a Palavra de Deus acima de tudo, pois as Sagradas Escrituras, para nós protestantes, são a nossa regra única de fé, prática e autoridade. De fato, as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja edificada pelo Senhor Jesus Cristo.
Que Deus nos abençoe!

André G. Bronzeado.

Referências:

CAIRNS, Earle E. – O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. 2. Ed. – São Paulo: Vida Nova, 1995.
(1) HURLBUT, Jesse L."História da igreja cristã" - São Paulo: Ed. Vida, 2002.
Imagem: www.monergismo.com

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A Reforma Protestante e as suas principais causas (Parte I)

No último dia 31 de outubro do corrente ano, a Reforma Protestante completou 491 anos. Uma das coisas que mais me deixou surpreso nesse dia foi o fato de que poucas igrejas e um número menor ainda de pessoas de confissão protestante se lembraram dessa data tão importante para o Cristianismo.
- De fato, esta realidade tão somente me incentiva a me unir aos poucos que se interessam em mergulhar na bela história de nossas raízes de atitudes tão corajosas, de renúncias tão marcantes, de estudo dedicado das Escrituras, de lutas contra gigantes, de convicções fortes que levaram homens santos à morte e que, somados a tantos outros fatores, formaram uma força do bem que resultou no triunfo da verdade bíblica sobre o engano de uma religiosidade imunda comandada por um clero mergulhado em toda sorte de promiscuidade. E no meio desse divisor de águas, entre uma igreja corrupta e a reforma que objetivava o retorno ao Cristianismo autêntico, encontramos a figura de um homem temente a Deus chamado Martinho Lutero.
- Quero então mergulhar nessa bela história para mostrar que, embora os desinformados e ignorantes pensem que a Reforma Protestante foi meramente um movimento do monge Martinho Lutero em oposição à igreja católica romana, na verdade a Reforma refletiu, no campo da religião, um sentimento mundial de um tempo em que as mentes mais brilhantes passaram a ter uma visão de mundo não mais submissa ao que a igreja e o papa consideravam correto, a saber, no período conhecido como Renascimento ou Renascença.
- Antes, porém, de adentrarmos no cerne da questão, é necessário fazermos uma viajem histórica à chamada igreja medieval. Embora nem mesmo a maioria dos católicos romanos saiba, muito antes de Lutero, vários homens de Deus, católicos, doutores em teologia, reitores de universidades em toda a Europa, enfim, homens de Deus foram injustamente excomungados e mortos de formas terríveis pelo clero da igreja católica pelo simples fato de amarem as Escrituras e proclamarem o Evangelho a todas as criaturas.
- Para se ter uma idéia, a História registrou cerca de cinco grandes movimentos de reforma surgidos na igreja, sobretudo no período medieval, porém o mundo ainda não estava preparado para recebê-los, de modo que foram reprimidos com sangrentas perseguições. Como pretendo tratar da Reforma Protestante de forma mais profunda, por uma questão didática estarei dividindo o nosso estudo em duas partes da seguinte forma: na primeira parte trataremos dos pré-reformadores do período da igreja medieval; e na segunda parte trataremos da Reforma iniciada por Martinho Lutero no século XVI, já no período do Renascimento.
- PRÉ-REFORMADORES – Na igreja medieval, como já mencionado, surgiram em diversos países movimentos que visavam uma reforma na igreja romana. Os albigenses (cátaros), por exemplo, no ano de 1170 no sul da França, rejeitaram a autoridade da tradição, distribuíram o Novo Testamento e opuseram-se às doutrinas romanas do purgatório e adoração de imagens. Em 1208, o papa Inocêncio III mobilizou uma “cruzada” contra eles, assassinando quase toda a população da região, tanto a católica como a parcela que os seguia.
- Outro exemplo que apareceu no mesmo tempo foram os valdenses, em 1170, liderados por Pedro Valdo, um homem de Deus que lia, explicava e distribuía as Escrituras, práticas estas que contrariavam a igreja romana. Valdo fundou uma ordem de evangelistas chamada de “Os pobres de Lyon”, que viajavam evangelizando o centro e o sul da França. Foram cruelmente perseguidos e expulsos da França, porém um pequeno grupo deles conseguiu se esconder durante séculos no norte da Itália e atualmente corresponde a uma tradicional comunidade protestante naquele país católico.
- João Wyclif iniciou um movimento em favor da libertação do domínio do poder romano e da reforma da igreja no século XIV na Inglaterra. Wyclif era doutor em teologia pela universidade de Oxford e era, ainda, o chefe dos conselhos que dirigiam aquela instituição. Defendia que os serviços da igreja deveriam se assemelhar ao modelo do Novo Testamento e não funcionarem da maneira que o papa governava a igreja em seu tempo. Não foi martirizado porque a Inglaterra era uma nação mais desenvolvida intelectualmente e os nobres mais influentes o defenderam. Sua grande contribuição foi a tradução do Novo Testamento para o inglês em 1380.
- João Huss, da Boêmia, o homem que inspirou Martinho Lutero não teve a mesma sorte e foi martirizado em 1445. Lutero dedicou a Huss a concretização da Reforma na Alemanha. João Huss era leitor dos escritos de Wyclif, pregou as mesmas doutrinas e, especialmente, a necessidade de se libertar da autoridade papal. Chegou a ser reitor da Universidade de Praga e exerceu muita influência em toda a Boêmia, porém o papa lhe excomungou e proferiu censura eclesiástica à cidade de Praga só pelo fato de Huss habitar ali. João Huss recebeu um salvo-conduto do imperador Sigismundo para comparecer em um concílio em Constança, porém o acordo foi violado pela igreja sem respeitar sequer o salvo-conduto do imperador. Em 1445 foi queimado vivo em praça pública por pregar o Evangelho na língua alemã e a doutrina bíblica de salvação mediante a fé. Sua condenação além de injusta foi decisiva para a Reforma em sua terra natal e até hoje Huss é respeitado na Alemanha como um herói.
- Jerônimo Savanarola era monge da Ordem dos Dominicanos, em Florença, Itália, chegando a ser prior do Mosteiro de São Marcos. Pregava como os profetas antigos, contra os males sociais, eclesiásticos e políticos de seu tempo. Conta a História, que a grande catedral se enchia de multidões para ouvi-lo. A população obedecia aos seus ensinos. Efetuou evidente reforma religiosa em Florença, porém foi excomungado pelo papa, preso e condenado. Foi enforcado e queimado. Seu martírio ocorreu no ano de 1498, apenas dezenove anos antes que Martinho Lutero pregasse as 95 teses na porta da Catedral de Wittenberg na Alemanha.
- Um fato importante a se considerar nessa época é a queda de Constantinopla, em 1453, que foi assinalada pelos historiadores como a linha divisória entre os tempos medievais e os tempos modernos. Agora sim, o mundo estava se preparando para assimilar a Reforma que estava por vir. A ignorância medieval daria lugar ao desenvolvimento intelectual e humano dos tempos modernos. Roma não conseguiu queimar a contribuição de cada um desses e de tantos outros mártires que defenderam a fé até a morte.
- Nesse contexto, já no século XVI, um grande acontecimento despertou a atenção de todo o mundo, a saber, a Reforma Protestante que se iniciou na Alemanha e se espalhou por todo o norte da Europa tendo como resultado o estabelecimento de igrejas nacionais que não prestavam obediência, submissão nem fidelidade a Roma.
- Antes de concluirmos esta primeira parte de nosso estudo, é importante anotarmos algumas forças que contribuíram para o progresso da Reforma. Uma dessas forças foi, sem dúvida, o movimento conhecido como “Renascença”. Também chamado de “Renascimento” foi o despertar da Europa para as artes, a literatura e a ciência com a substituição dos métodos e propósitos medievais pelos métodos modernos.
- Durante a Idade Média o interesse dos estudiosos era orientado pela verdade religiosa. O pensamento e a ciência eram submissos ao que a igreja católica achava correto. Se alguém quisesse desenvolver algum remédio, por exemplo, poderia ser considerado um herege sendo queimado em praça pública! Quem achasse que a Terra era redonda, deveria negar todo o árduo estudo que fez sobre o assunto.
- Por outro lado, no período do Renascimento, surgiu um novo interesse pela literatura clássica, pelo grego e pelo latim, pelas artes, de forma inteiramente separada da religião. Apareciam assim, os primeiros vislumbres da ciência moderna. A Renascença abriu a mente humana para pensar livre e sem imposições constituindo, assim, um movimento cético e investigador.
- Embora na Itália, onde teve início, o Renascimento se concentrasse na literatura, no norte dos Alpes, na Alemanha, na Inglaterra e na França, o movimento possuía um forte sentimento religioso, despertando novo interesse pelas Escrituras e levando o povo a investigar os verdadeiros fundamentos da fé, independente dos dogmas de Roma. Lembremo-nos de que a igreja católica romana não permitia que os fiéis lessem a Bíblia! Por que será?
- O surgimento da imprensa em 1455 também foi fundamental e um forte aliado da Reforma, uma vez que através dessa descoberta era possível imprimir várias cópias de livros e Bíblias que podiam circular facilmente aos milhares por toda parte. Para se ter uma idéia, antes de se inventar a imprensa, os livros eram copiados à mão. Uma Bíblia chegava a custar um salário de um ano inteiro de um operário.
- A imprensa possibilitou o uso comum das Escrituras e incentivou a tradução da Bíblia para diversos idiomas da Europa. Nesse período, as pessoas passaram a usar sua inteligência e conhecimento bíblico para questionarem a distância entre o Cristianismo que aprendiam ao lerem a Bíblia e a religiosidade imunda empregada pela igreja romana. Nesse contexto, os novos ensinos dos reformadores eram publicados em livros e folhetos circulando aos milhões na Europa.
- Outro fator importante foi o espírito nacionalista que emergia na Europa. A população de vários países estava cansada das imposições vindas da igreja católica romana sobre seus países. O povo passou a exigir igrejas nacionais e sem nenhuma submissão à autoridade estrangeira.
- Pronto! O palco de uma grande mudança já estava montado. O clero já não estava dispondo de todo o seu poder de ilusão de outrora. Agora já se observava um sentimento moderno de investigação, um olhar crítico divorciado de fanatismo religioso, um sentimento de liberdade, de desenvolvimento humano e, sobretudo, de busca da essência do verdadeiro Cristianismo. Mais uma vez o mundo já não seria mais o mesmo! De fato, Deus não deixaria que as portas do inferno prevalecessem contra a Sua verdadeira Igreja, a saber, aquela formada por cristãos sinceros e autênticos, alcançados por Sua irresistível graça e cuja conduta estava pautada nas Escrituras Sagradas.
- O estopim da Reforma Protestante e a análise de suas principais causas serão cenas a tratarmos na segunda parte deste estudo. Aguardem e confiram.
André Bronzeado
Referências: HURLBUT, Jesse L."História da igreja cristã" - São Paulo: Ed. Vida, 2002.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

491 anos da Reforma Protestante


"A data exata fixada pelos historiadores como início da grande Reforma foi registrada como o dia 31 de outubro de 1517. Na manhã desse dia, Martinho Lutero afixou na porta da Catedral de Wittenberg (foto acima) um pergaminho que continha 95 teses ou declarações, quase todas relacionadas com a venda de indulgências; porém em sua aplicação atacava a autoridade do papa e do sacerdócio.
Os dirigentes da igreja procuravam em vão restringir e lisongear Martinho Lutero. Ele, porém, permaneceu firme, e os ataques que lhe dirigiam, apenas serviam para tornar mais resoluta sua oposição às doutrinas não apoiadas nas Escrituras Sagradas.
(...) no dia 17 de abril de 1521 Lutero compareceu ante a Dieta do Concílio Supremo do Reno, presidida pelo imperador.Em resposta a um pedido de que se retratasse, e renegasse o que havia escrito,após algumas considerações respondeu que não podia retratar-se, a não ser que fosse desaprovado pelas Escrituras e pela razão, e terminou com estas palavras:
"Aqui estou. Não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém.""
(Extraído do livro "História da Igreja Cristã" - Jesse Lyman Hurlbut, Ed. Vida)
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No mês de outubro estaremos enfatizando o tema "Reforma Protestante" diante do fato de que estamos bem próximos do aniversário de 491 anos desse acontecimento tão especial para a igreja de Cristo na face da terra. De fato, a essência da Reforma não pode ser esquecida em nosso tempo, sobretudo diante do surgimento de tantos movimentos heréticos.
Por isso, convido você a fazer comigo essa viagem em busca da essência da Reforma Protestante!
*As principais causas da Reforma*
*A opinião dos historiadores seculares, católicos romanos e protestantes*
*Influências que conduziram à Reforma*
*Lutero na Alemanha, Calvino na Suíça e a Reforma em outros países*
*Os princípios da religião reformada*
*A contra-reforma católica*
*Os principais dirigentes do período*
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Confiram:
Dia 31: "A Reforma Protestante e suas principais causas" - André Bronzeado
Que Deus nos abençoe!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Um passeio pela Igreja Universal do Reino de Deus



A leitura de uma pequena carta no Novo Testamento me impactou a defender a fé com intrepidez como prática constante em minha vida. Trata-se da Epístola de Judas, escrita pelo irmão de Jesus (e não o seu discípulo traidor). Judas nos escreve uma profunda mensagem de exortação e encorajamento.

Mas você deve estar se perguntando qual a relação que isso tem com o meu “passeio” pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). É que me sinto incomodado com o que falsos mestres têm feito com o Evangelho nos nossos dias. Repudio a mediocridade no conhecimento teológico de boa parte daqueles que se chamam “povo de Deus”. Isto mesmo! São poucos os que se interessam em buscar conhecimento da Palavra de Deus para melhor servirem ao Senhor e até mesmo para possuírem um alicerce firme para observar verdadeiros absurdos doutrinários ao seu redor. Por isso muitos acabam acompanhando qualquer vento de doutrina.

Pois bem, um dia desses, eu e minha noiva estávamos caminhando pelas ruas da cidade quando de repente nos deparamos com um templo da IURD. Nesse instante, olhamos um para o outro, esboçamos um sorriso daqueles de criança quando vê um doce e dissemos à uma só voz: “Vamos entrar!?” Lógico! Nós desejávamos ver in loco as famosas aberrações que existem naquele lugar. E de fato aquela programação era para nós um passeio. Não podíamos subir aquelas escadas com o mesmo sentimento do salmista “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor”. Estávamos mesmo fazendo uma pesquisa de campo e sem muito dinheiro no bolso, talvez para a tristeza deles.

Era dia da conhecida “Sessão Espiritual do Descarrego”. Perfeito! Como eu sempre digo: “Eu só entro na batalha onde o fogo mais inflama!” Enfim, era o dia da “oração forte” para libertação de todo mal. Até aí tudo bem. O auditório estava repleto de pessoas, pois era a principal reunião da tarde. Vários pastores se revezavam em momentos de oração. Houve a citação de alguns textos da Palavra de Deus e também a dedicação dos dízimos e ofertas.

Nesse momento, o pastor afirmou que Deus estava lhe dizendo que dez pessoas iriam se levantar para ofertarem R$ 50,00 (cinqüenta reais) cada uma, porém apenas duas pessoas timidamente se levantaram ao passo que o pastor, depois de tanto apelar, resolveu falar em menos dinheiro e então chegou aos R$ 10,00, R$ 5,00 e R$ 1... Ah! Para esta última opção um monte de gente se levantou! Bem, depois de tantas cifras acho que só eu e minha querida noiva nos lembrávamos da afirmação categórica inicial de que “dez pessoas iriam se levantar para ofertarem R$ 50 reais” – fato que não aconteceu.

Enfim, considero que o nome de Deus não pode ser usado em afirmações movidas por pura emoção. Particularmente costumo demorar muito para dizer que Deus me disse alguma coisa. É preciso ter cuidado para se afirmar que Deus está dizendo isso ou aquilo. Já vi muita gente falando absurdos em nome de Deus por aí! Falar que Deus levantaria 10 pessoas para ofertarem R$ 50,00 e apenas duas o fizeram, é usar o Santo nome de Deus de forma vã e mentirosa. Deus honra o que diz, Deus cumpre a Sua Palavra!

Mas, por falar em emoção, esta nem havia começado. De repente uma senhora se senta ao meu lado e me pergunta ao pé do ouvido ansiosa: “Já teve a oração forte?”. Eu totalmente desentendido respondi que sim! Ora, afinal para mim oração que se preze tem mesmo é que ser forte! Que história é essa de oração forte ou fraca? A Bíblia diz que a oração do justo muito pode em seus efeitos. Pelo visto, na IURD existe oração forte, assim como na macumba existe também trabalho forte.

Pois bem, mas não é que eu estava errado! A “oração forte” começou cinco minutos depois e foi literalmente emocionante... Todos em pé, força total, vários pastores orando em voz alta e daqui a pouco eu não conseguia ouvir mais nada, a não ser algo assim: “Manifeste-se desgraçado! Você está amarrado! Apareça! Miserável! Tranca rua, sai da vida dessa pessoa agora desgraçado! Eu quero falar com o chefão! Manifeste-se desgraçado!” De oração a provocação, ou será invocação?

Depois de tudo isso, assistimos a cenas de manifestação demoníaca. Eram gritos horríveis. Os obreiros entram em ação entrelaçando o pescoço das pessoas com os braços, puxando os cabelos de mulheres e levando todos os encapetados para o altar onde, depois de uma breve entrevista com a básica pergunta - “o que você quer na vida dessa pessoa?”, as mesmas foram exorcizadas. Aquelas que ofereciam resistência eram repreendidas com o grito: “Tá amarrado em nome de Jesus!”. Além disso, eram paralisadas com uma borrifada de perfume que um dos pastores guardava no bolso. Enfim, isso é o resumo do espetáculo universal.

Meu querido leitor, não tenho o objetivo de criticar por apenas criticar a IURD, mas tenho compromisso com a defesa da fé baseada na Palavra de Deus. E nesse momento, volto a falar da Epístola de Judas que no seu verso de número 3 nos exorta a “batalharmos pela fé que uma vez foi dada aos santos”. Saliente-se que as armas dessa batalha são espirituais. O real objetivo é defender a fé das inovações e deturpações provocadas por homens e grupos religiosos que difundem heresias e ensinos contrários à Palavra de Deus.

A ênfase apologética da Epístola de Judas certamente está relacionada ao fato de que a igreja primitiva, com o seu crescimento, já estava lidando com ensinos falsos. Judas também exorta os fiéis a permanecerem na fé e na oração para que pudessem salvar os vacilantes (v.v. 8-13).

O fato é que hoje, com o inchaço do povo evangélico no Brasil, em toda esquina se encontra uma novidade estranha à Palavra de Deus e quase sempre fruto de grupos dissidentes de igrejas sérias que passam a proclamar um evangelho estranho e divorciado da verdade bíblica; um evangelho centrado na vontade do homem e não na vontade de Deus. Pessoas apascentadas por pastores gananciosos que só visam o sucesso de seu próprio nome, usando o nome de Jesus apenas como pretexto atrativo. Não há líderes como João Batista que olhando para Cristo afirmou: “convém que eu diminua, e que Ele cresça”.

O testemunho de regeneração cristão tem se transformado em um testemunho de mudança de classe social. Deus não é mais Senhor, foi transformado em um parceiro, um sócio. Em muitas igrejas Deus se transformou em um empregado dos que se chamam seus “servos”. A relação de barganha e até mesmo de pressão é uma afronta à soberania de Deus. O crente entrega dinheiro em troca de mais dinheiro e chega a exigir e a determinar que Deus faça ou deixe de fazer algo. Quem é o homem para pressionar a Deus? Que tipo de cristianismo é esse? Que evangelho é esse que não fala mais em cruz, em pecado, em conversão, em servir a Deus, em buscar santidade, em se parecer com Jesus Cristo, em conhecer as Escrituras?!

Quantas práticas e ensinos estranhos! Enquanto pessoas repetem jargões de um "evangeliquês" barato, o inimigo está solto e ao derredor tentando a todo o momento nos tragar! Crente que busca a maturidade procura se revestir da armadura de Deus permanecendo fiel na fé, pois se resistirmos ao diabo, ele fugirá de nós! Além disso, que história é essa de ficar “batendo boca” com o diabo se nem o “Arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda”? (v. 9). Nós como crentes devemos repreender demônios na autoridade do nome de Jesus e não ficar dirigindo insultos a eles. Não nos compete amarrar demônios, mas sim resistí-los. O que pertence a Satanás está guardado; é Jesus quem vai amarrá-lo e ele será lançado no lago de fogo e enxofre onde será atormentado para todo sempre.

Meus irmãos, diante de tantas afirmações e heresias que contrariam o ensino das Escrituras, devemos ouvir a convocação que nos conduz a “batalharmos pela fé”. Essa batalha, diferente das batalhas humanas, não mata, antes dá vida àqueles que ouvem a Palavra, “arrebatando do fogo” aqueles que enveredam por caminhos estranhos e distantes da sã doutrina.

Com carinho,

André G. Bronzeado.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Doutrina da Trindade


Trindade: um e três?

É interessante como a Doutrina da Trindade desperta tantas dúvidas entre cristãos e até entre não-cristãos. Confusões, interpretações erradas e até mesmo heresias surgem acerca desse tema que realmente não é fácil de se compreender, pois ultrapassa o nosso limitado entendimento. Resta-nos buscar a compreensão dessa verdade pela fé, aceitando que cremos em um único Deus que ao mesmo tempo é trino.


A palavra “trindade” não se encontra na Bíblia, mas foi usada pela primeira vez por Tertuliano em 220 a.D. para expressar uma verdade que está explícita nas Escrituras. Essa palavra tem origem do latim “trinitas” que significa “estado de ser três” e é até hoje usada para tentar explicar a doutrina segundo a qual cremos que Deus existe eternamente como três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo e cada pessoa é plenamente Deus.


No Antigo Testamento não encontramos a plena revelação da existência trinitária de Deus, embora encontremos indicações da essência dessa doutrina como em Gênesis 1:1, onde no escrito em língua original, a palavra utilizada equivalente a “Deus” é “Elohim” que é plural de “Elohah”. A expressão da pluralidade da personalidade de Deus ocorre também no texto de Gênesis 1:26, utilizado pelos Pais da Igreja para defender a doutrina da Trindade, quando diz: “Façamos o homem, à nossa imagem ...”. Já no Novo Testamento a Trindade aparece de forma mais notória como, por exemplo, no batismo de Jesus, na Grande Comissão, na forma batismal e na bênção apostólica.

O fato de a palavra “trindade” ser um termo extra-bíblico usado para expressar algo que está explícito na Bíblia gera muitas questões, interpretações errôneas e até heresias, tais como o Modalismo que crê que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três modos de aparecer do mesmo Deus. Este pensamento, porém,  despersonaliza o nosso Deus! Há também o Subordinacionismo que crê que o Pai é o único Deus enquanto que o Filho e o Espírito Santo são criaturas subordinadas. Por fim, há o Triteísmo que acredita na existência de três deuses que seriam o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Tais pensamentos são considerados heresias.


O que de fato devemos crer à luz da Bíblia é que o nosso Deus é único, porém sua unidade é complexa de modo que existem três pessoas que são plenamente Deus, cuja essência é única e por isso não são três deuses, ou seja, Deus é três em pessoa e um em essência.

André G. Bronzeado.

domingo, 25 de maio de 2008

ORAÇÃO



Atitudes importantes no momento da oração

Geralmente definimos oração como sendo uma prece, súplica ou um pedido dirigido a Deus. Mas será mesmo que o sentido das nossas orações deve ser apenas este? É bom que entendamos a oração apenas dessa forma?


Ora, colocar-se em oração é bem mais do que isso. É entrar em um estado de conversa com Deus, é um sublime contato com o Criador que não pode ser desperdiçado se tornando apenas uma oportunidade para fazermos pedidos. Orar é, antes de tudo, uma maravilhosa oportunidade de experimentarmos a presença santa do Senhor e de adorar a Ele na beleza de Sua santidade. Imagine a cena de uma conversa entre um pai e seu filho, na qual esse filho apenas lhe faz pedidos. Essa relação é de certa forma doentia. Não há prazer nenhum nessa conversa, só se fala o que é de interesse do fillho e nada mais que isso.

Não existe - e nem é bom que exista mesmo - um modelo ou uma forma pré-definida de como devemos orar, muito embora existam pessoas que usam as mesmas orações repetidamente e de forma mecânica. Até mesmo entre os protestantes existem pessoas que refletem sua falta de intimidade com Deus em suas orações repetidas, como sendo uma “reza protestante”. Isso demonstra no mínimo a falta de prazer na oração. Há muitos que oram por apenas orar, como se obrigadas fossem, supersticiosamente ou mesmo para apenas buscar seus interesses.

Há algumas atitudes, no entanto, que devem estar presentes em nossas orações constantemente, como o próprio Senhor Jesus nos ensinou na oração conhecida como “Pai Nosso”. Alistei aqui algumas dessas atitudes que não podemos deixar de ter, as quais são:

a) LOUVOR: Expressamos louvor quando reconhecemos tudo aquilo que o Senhor tem feito por nós, ou seja, são nossas expressões de gratidão a Deus por tudo o que Ele tem feito e pelo que vai fazer. Damos graças a Deus pelo Seu amor infinito, pelo perdão, pelo cuidado para conosco, por Cristo ter morrido em nosso lugar, enfim, é louvar, agradecer a Deus pelo que Ele fez.
b) ADORAÇÃO: Enquanto que ao louvarmos a Deus estamos reconhecendo o que Ele fez; quando o adoramos, estamos reconhecendo o que Ele é, ou seja, expressamos adoração quando reconhecemos que Deus é Santo, fiel, soberano, grandioso, misericordioso, etc. É revenrenciá-lo pelo que Ele representa para nós.
c) CONFISSÃO: Como a própria palavra sugere, é a atitude de confessar pecados cometidos e, ao fazer isto, obter a oportunidade de pedir a Deus perdão em sinal de arrependimento. Deus, por Sua fidelidade e justiça, concede ao arrependido o Seu perdão (1 Jo. 1:7-9).
d) INTERCESSÃO: É quando oramos por alguém ou em favor da causa de outrem. Esta é, sem dúvidas, uma atitude relevante na vida do verdadeiro cristão, pois este estará pleiteando por sua família, amigos, irmãos em Cristo e até desconhecidos.
e) PETIÇÃO: É a apresentação de um pedido a Deus, ou seja, é quando colocamos diante de
Deus as nossas lutas, nossos sonhos e anseios relacionados às nossas vidas. Evidentemente, nem todas as nossas petições obterão uma resposta positiva, mas a soberana vontade de Deus certamente será feita.

Esses elementos devem aparecer em nossas orações naturalmente e constantemente; não devem ser obedecidos de forma mecânica. A oração é algo espontâneo e nós não devemos perder a oportunidade de louvar, adorar, pedir perdão, interceder pelos outros e fazer petições a Deus quando estivermos orando. Quando orarmos, que experimentemos mergulhar na presença de Deus para que possamos conhecer o que é realmente ter uma vida de oração e, sobretudo, o quanto é maravilhoso poder falar com o Criador de tudo.

André G. Bronzeado

domingo, 18 de maio de 2008

TESTEMUNHO


Por que Deus coloca pessoas com problemas em nosso caminho?


“Se você vacila no dia da dificuldade, como será limitada a sua força!
Liberte os que estão sendo levados para a morte;
Socorra os que caminham trêmulos para a matança!
Mesmo que você diga: ‘Não sabíamos o que estava acontecendo!’
Não o perceberia aquele que pesa os corações?
Não o saberia aquele que preserva a sua vida?
Não retribuirá ele a cada um segundo o seu procedimento?”
(Provérbios 24:10-12 – NVI)

- O livro de Provérbios está inserido em um grupo de livros na Bíblia que chamamos de “literatura sapiencial”. Juntamente com o esse livro estão também os livros de Jó e Eclesiastes. A literatura sapiencial utiliza a poesia para expressar verdades profundas com vistas a fazer do servo de Deus alguém que valoriza a prudência e a sabedoria.

- Viver de forma prudente e sábia é ter uma vida agradável aos olhos do Senhor. O livro de Provérbios nos ensina que toda a vida deve ser vivida para a glória do soberano Deus. Nesse mesmo sentido, esse livro nos alerta para o desafio de sermos testemunhas do Senhor, daquilo que Ele é para nós e de tudo o que fez em nossas vidas. O escritor de Provérbios afirma sob a inspiração divina que “aquele que conquista almas é sábio” (Pv. 11:30). Destarte, o conselho divino nos desafia à ação de alcançar pessoas através de nosso testemunho.
- Mas o que é testemunhar? De maneira geral consiste em prestar depoimento, provar, alegar, etc. Biblicamente, o livro de Atos dos Apóstolos nos revela que fomos feitos testemunhas do Senhor (Atos 1:8). Nossas vidas devem se voltar à proclamação das boas-novas e ao compartilhar firme da obra que o Senhor fez em nós, porém esta não é uma tarefa fácil, pois constitui um desafio a enveredar em um caminho de ação ao qual muitos resistem trilhar.
- Ser testemunha do Senhor é realmente compreender que fomos comissionados por Ele com o objetivo de proclamarmos a mensagem do Evangelho com a nossa boca e com o nosso agir. Todo aquele que foi resgatado das trevas pelo Senhor precisa entender que o crente é um missionário em potencial. Somos luz do mundo e sal da terra! Não há como sermos um desses elementos sem que façamos a diferença diante das pessoas que estão ao nosso redor.
- Já afirmou J. Blanchard que “a grande necessidade da Igreja é ter um espírito de evangelização e não um esforço evangelístico temporário”. Ser testemunha do Senhor diante dos homens não é uma tarefa para horas vagas, mas sim um estilo de vida e, acima disso, um sinal de obediência ao Senhor. Ora, a luz dissipa toda treva e o sal dá um toque de sabor a todo o alimento; é exatamente assim que o cristão deve ser. Deve trazer consigo o sinal diferencial que proclame a todos as boas-novas de salvação.
- São muitas as razões pelas quais o cristão deve ser testemunha do Senhor através do evangelismo pessoal. Há motivos de sobra para não vivermos em um estado de apatia espiritual. Muitos cristãos não evangelizam outras pessoas por não possuírem conhecimento bíblico ou por supervalorizarem suas incapacidades em detrimento ao agir de Deus. Porém Jesus nos deu uma ordem explícita para evangelizarmos pessoas e nos recomendou a não deixarmos que a Sua luz em nós seja insignificante. “Brilhe a vossa luz diante dos homens” – foi o conselho que nos deu o Mestre. Além disso, homens e mulheres estão perecendo ao nosso redor enquanto nós guardamos para nós mesmos a maior de todas as notícias já anunciada, a saber, a mensagem do Evangelho.
- Como se não bastasse a nossa indiferença, ainda reinam nos meios de comunicação verdadeiras confusões acerca do testemunho e do Evangelho. Assistimos diariamente a pregação do evangelho utilitarista, mercantilista, assistencialista, do “evangelho sem cruz” e do “evangelho do subir na vida”. Este é mais um motivo para atendermos ao desafio do testemunho do Evangelho Bíblico, separado de confusões e cavilações humanas como já cansamos de ouvir.
- No texto de Provérbios acima citado, podemos anotar três razões pelas quais devemos testemunhar e proclamar o Evangelho. Primeiramente o momento de testemunhar é agora. O texto nos adverte a não vacilarmos no dia da dificuldade, isto é, não podemos perder as oportunidades que temos, a hora é agora. Em segundo lugar a responsabilidade é nossa. O texto nos adverte a libertarmos aqueles que estão sendo levados à morte. Não é por acaso que Deus coloca pessoas com problemas ao nosso redor. Em último lugar, o texto nos ensina que não podemos dar desculpas. Não devemos fazer vista grossa dizendo que não sabemos o que está acontecendo. Há pessoas perecendo ao nosso redor!
- Que Deus nos faça ter compaixão por todos aqueles que Ele põe ao nosso redor e que nos preocupemos em testemunhar do amor de Deus com cada um deles. Amém.
ANDRÉ BRONZEADO

sábado, 17 de maio de 2008

Pecado Original



O Pecado de Adão e o meu

- Talvez algum dia, diante da doutrina do pecado original, você tenha se perguntado: “Por que e como a nossa natureza pecaminosa pode ser uma herança de Adão?”, “Por que eu tenho que ser pecador por conseqüência de um ato que Adão cometeu quando eu nem sonhava em nascer?” ou “Qual a relação existente entre o pecado de Adão e o fato de nascermos naturalmente pecadores?” O que temos a ver com o pecado de Adão, afinal?
- A Teologia tem tentado responder a questões como estas acerca da queda de Adão e a do resto da humanidade. A visão mais correta à luz da Bíblia para sanar estas dúvidas é a chamada “visão representativa da queda”, isto é, segundo esta visão, Adão agiu como um representante da raça humana inteira, ou seja, quando Adão foi submetido ao “teste de Deus” no Éden, eu e você estávamos também sendo testados através da pessoa dele.
- A idéia principal dessa visão é que, quando Adão pecou, ele pecou por todos nós, ou seja, sua queda foi também a nossa queda. Pelo fato de ter sido escolhido por Deus, Adão foi nosso representante perfeito de tal forma que qualquer um de nós estando no lugar dele faria o mesmo!
- Diante, por exemplo, do ensino do Apóstolo Paulo no capítulo 5 de Romanos, alguém poderia questionar se é justo o fato de já nascermos em um estado de incapacidade moral e em pecado mesmo sem termos contribuído ativamente para a queda de Adão no Éden, sobretudo ao passo que lemos que “... por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte ...” (v. 12) e ainda, “... pela desobediência de um só homem (Adão), muitos se tornaram pecadores ...” (v. 19). A priori tudo isso parece não ser justo.
- O fato é que isso não é nada injusto. Pelo contrário! Podemos afirmar com convicção que nunca na história humana fomos tão bem representados como o fomos no Éden. A escolha de Deus foi perfeita, até porque Deus nunca comete erros e dessa vez não seria diferente. É bom que se esclareça teologicamente que o pecado original não é o primeiro pecado em si, mas sim a mancha que se espalhou em toda a humanidade como resultado do pecado de Adão, nos colocando em uma condição pecaminosa e afastada de Deus. É conseqüência e punição pelo pecado de Adão. O pecado entrou no mundo através de Adão e atingiu a toda humanidade.
- O nosso Deus, porém, pelo seu infinito amor, manifesta a sua graça irresistível e salvadora sobre a vida daqueles que Ele sabe que são criaturas caídas, cegas e incapazes de alcançarem a salvação por seus próprios esforços, tais como eu e você. Louvemos, pois, a Deus por isso! Deus nos ama e nos resgata das trevas para a mais perfeita luz.



ANDRÉ G. BRONZEADO


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