quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Um passeio pela Igreja Universal do Reino de Deus



A leitura de uma pequena carta no Novo Testamento me impactou a defender a fé com intrepidez como prática constante em minha vida. Trata-se da Epístola de Judas, escrita pelo irmão de Jesus (e não o seu discípulo traidor). Judas nos escreve uma profunda mensagem de exortação e encorajamento.

Mas você deve estar se perguntando qual a relação que isso tem com o meu “passeio” pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). É que me sinto incomodado com o que falsos mestres têm feito com o Evangelho nos nossos dias. Repudio a mediocridade no conhecimento teológico de boa parte daqueles que se chamam “povo de Deus”. Isto mesmo! São poucos os que se interessam em buscar conhecimento da Palavra de Deus para melhor servirem ao Senhor e até mesmo para possuírem um alicerce firme para observar verdadeiros absurdos doutrinários ao seu redor. Por isso muitos acabam acompanhando qualquer vento de doutrina.

Pois bem, um dia desses, eu e minha noiva estávamos caminhando pelas ruas da cidade quando de repente nos deparamos com um templo da IURD. Nesse instante, olhamos um para o outro, esboçamos um sorriso daqueles de criança quando vê um doce e dissemos à uma só voz: “Vamos entrar!?” Lógico! Nós desejávamos ver in loco as famosas aberrações que existem naquele lugar. E de fato aquela programação era para nós um passeio. Não podíamos subir aquelas escadas com o mesmo sentimento do salmista “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor”. Estávamos mesmo fazendo uma pesquisa de campo e sem muito dinheiro no bolso, talvez para a tristeza deles.

Era dia da conhecida “Sessão Espiritual do Descarrego”. Perfeito! Como eu sempre digo: “Eu só entro na batalha onde o fogo mais inflama!” Enfim, era o dia da “oração forte” para libertação de todo mal. Até aí tudo bem. O auditório estava repleto de pessoas, pois era a principal reunião da tarde. Vários pastores se revezavam em momentos de oração. Houve a citação de alguns textos da Palavra de Deus e também a dedicação dos dízimos e ofertas.

Nesse momento, o pastor afirmou que Deus estava lhe dizendo que dez pessoas iriam se levantar para ofertarem R$ 50,00 (cinqüenta reais) cada uma, porém apenas duas pessoas timidamente se levantaram ao passo que o pastor, depois de tanto apelar, resolveu falar em menos dinheiro e então chegou aos R$ 10,00, R$ 5,00 e R$ 1... Ah! Para esta última opção um monte de gente se levantou! Bem, depois de tantas cifras acho que só eu e minha querida noiva nos lembrávamos da afirmação categórica inicial de que “dez pessoas iriam se levantar para ofertarem R$ 50 reais” – fato que não aconteceu.

Enfim, considero que o nome de Deus não pode ser usado em afirmações movidas por pura emoção. Particularmente costumo demorar muito para dizer que Deus me disse alguma coisa. É preciso ter cuidado para se afirmar que Deus está dizendo isso ou aquilo. Já vi muita gente falando absurdos em nome de Deus por aí! Falar que Deus levantaria 10 pessoas para ofertarem R$ 50,00 e apenas duas o fizeram, é usar o Santo nome de Deus de forma vã e mentirosa. Deus honra o que diz, Deus cumpre a Sua Palavra!

Mas, por falar em emoção, esta nem havia começado. De repente uma senhora se senta ao meu lado e me pergunta ao pé do ouvido ansiosa: “Já teve a oração forte?”. Eu totalmente desentendido respondi que sim! Ora, afinal para mim oração que se preze tem mesmo é que ser forte! Que história é essa de oração forte ou fraca? A Bíblia diz que a oração do justo muito pode em seus efeitos. Pelo visto, na IURD existe oração forte, assim como na macumba existe também trabalho forte.

Pois bem, mas não é que eu estava errado! A “oração forte” começou cinco minutos depois e foi literalmente emocionante... Todos em pé, força total, vários pastores orando em voz alta e daqui a pouco eu não conseguia ouvir mais nada, a não ser algo assim: “Manifeste-se desgraçado! Você está amarrado! Apareça! Miserável! Tranca rua, sai da vida dessa pessoa agora desgraçado! Eu quero falar com o chefão! Manifeste-se desgraçado!” De oração a provocação, ou será invocação?

Depois de tudo isso, assistimos a cenas de manifestação demoníaca. Eram gritos horríveis. Os obreiros entram em ação entrelaçando o pescoço das pessoas com os braços, puxando os cabelos de mulheres e levando todos os encapetados para o altar onde, depois de uma breve entrevista com a básica pergunta - “o que você quer na vida dessa pessoa?”, as mesmas foram exorcizadas. Aquelas que ofereciam resistência eram repreendidas com o grito: “Tá amarrado em nome de Jesus!”. Além disso, eram paralisadas com uma borrifada de perfume que um dos pastores guardava no bolso. Enfim, isso é o resumo do espetáculo universal.

Meu querido leitor, não tenho o objetivo de criticar por apenas criticar a IURD, mas tenho compromisso com a defesa da fé baseada na Palavra de Deus. E nesse momento, volto a falar da Epístola de Judas que no seu verso de número 3 nos exorta a “batalharmos pela fé que uma vez foi dada aos santos”. Saliente-se que as armas dessa batalha são espirituais. O real objetivo é defender a fé das inovações e deturpações provocadas por homens e grupos religiosos que difundem heresias e ensinos contrários à Palavra de Deus.

A ênfase apologética da Epístola de Judas certamente está relacionada ao fato de que a igreja primitiva, com o seu crescimento, já estava lidando com ensinos falsos. Judas também exorta os fiéis a permanecerem na fé e na oração para que pudessem salvar os vacilantes (v.v. 8-13).

O fato é que hoje, com o inchaço do povo evangélico no Brasil, em toda esquina se encontra uma novidade estranha à Palavra de Deus e quase sempre fruto de grupos dissidentes de igrejas sérias que passam a proclamar um evangelho estranho e divorciado da verdade bíblica; um evangelho centrado na vontade do homem e não na vontade de Deus. Pessoas apascentadas por pastores gananciosos que só visam o sucesso de seu próprio nome, usando o nome de Jesus apenas como pretexto atrativo. Não há líderes como João Batista que olhando para Cristo afirmou: “convém que eu diminua, e que Ele cresça”.

O testemunho de regeneração cristão tem se transformado em um testemunho de mudança de classe social. Deus não é mais Senhor, foi transformado em um parceiro, um sócio. Em muitas igrejas Deus se transformou em um empregado dos que se chamam seus “servos”. A relação de barganha e até mesmo de pressão é uma afronta à soberania de Deus. O crente entrega dinheiro em troca de mais dinheiro e chega a exigir e a determinar que Deus faça ou deixe de fazer algo. Quem é o homem para pressionar a Deus? Que tipo de cristianismo é esse? Que evangelho é esse que não fala mais em cruz, em pecado, em conversão, em servir a Deus, em buscar santidade, em se parecer com Jesus Cristo, em conhecer as Escrituras?!

Quantas práticas e ensinos estranhos! Enquanto pessoas repetem jargões de um "evangeliquês" barato, o inimigo está solto e ao derredor tentando a todo o momento nos tragar! Crente que busca a maturidade procura se revestir da armadura de Deus permanecendo fiel na fé, pois se resistirmos ao diabo, ele fugirá de nós! Além disso, que história é essa de ficar “batendo boca” com o diabo se nem o “Arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda”? (v. 9). Nós como crentes devemos repreender demônios na autoridade do nome de Jesus e não ficar dirigindo insultos a eles. Não nos compete amarrar demônios, mas sim resistí-los. O que pertence a Satanás está guardado; é Jesus quem vai amarrá-lo e ele será lançado no lago de fogo e enxofre onde será atormentado para todo sempre.

Meus irmãos, diante de tantas afirmações e heresias que contrariam o ensino das Escrituras, devemos ouvir a convocação que nos conduz a “batalharmos pela fé”. Essa batalha, diferente das batalhas humanas, não mata, antes dá vida àqueles que ouvem a Palavra, “arrebatando do fogo” aqueles que enveredam por caminhos estranhos e distantes da sã doutrina.

Com carinho,

André G. Bronzeado.