sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Tudo posso (suportar) naquele que me fortalece

Foto: O Super crente

“Tudo posso naquele que me fortalece”. Este versículo bíblico contém uma mensagem profunda de gratidão a Deus registrada nas Escrituras Sagradas pelo Apóstolo Paulo, no fechamento de sua epístola aos filipenses. Ocorre, porém, que esse mesmo texto bíblico tem se tornado uma infundada frase de efeito na boca de pregadores em toda parte. É, portanto, de salutar importância analisarmos o que de fato Paulo expressou essencialmente ao proferir tais palavras.

Preliminarmente, urge esclarecer que um dos princípios básicos utilizados para se interpretar textos bíblicos diz respeito à observação do contexto no qual o referido texto está inserido. Alguém já disse que um texto utilizado fora do contexto se transforma em pretexto para sustentar heresias e interpretações distantes. Não é diferente quando se trata do texto de Filipenses 4:13, supramencionado.

Referido versículo tem sido utilizado para expressar uma ideia errada de que o crente pode conseguir tudo o que quiser através de Jesus Cristo. Usa-se esse texto freqüentemente para determinar o acontecimento de algo que o crente deseja demasiadamente. Alguns pregadores asseveram: “você vai conseguir... você pode tudo... creia... porque a Palavra diz ‘tudo posso naquele que me fortalece’”.
Absurdo! Sabemos que há muitos textos bíblicos de difícil interpretação e que devemos depender do Espírito Santo para obtermos iluminação para melhor compreendermos a mensagem da Palavra de Deus. Por outro lado, interpretar um texto tão profundo de forma isolada e errada configura um desrespeito à Bíblia Sagrada e ao próprio Deus. Afinal, o que Paulo quis dizer com essa frase? Em que contexto ela se encontra? Quando buscamos as respostas para estas perguntas, encontramos a lição preciosa que o apóstolo Paulo quis imprimir no coração de seus leitores.


O versículo em análise fecha uma sentença que se inicia no versículo 10 do capítulo 4 da Epístola aos filipenses, senão vejamos: 

“Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade. Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece”.

Como se vê, Paulo volta ao tema do primeiro capítulo da epístola, a saber, a cooperação dos filipenses no evangelho, sobretudo, o seu apoio financeiro. O texto acima demonstra claramente que Paulo, assim como Jesus, experimentou sofrimentos e situações difíceis que geraram experiência e crescimento espiritual. Mesmo diante de intempéries, Paulo se mantinha contente enfrentando todas as circunstâncias, confiando em Jesus Cristo e seguindo seu exemplo. Esta é a lição desse texto! Não importa que tipo de privações, problemas, circunstâncias, ou intempéries que o crente tenha que passar na sua caminhada com Deus, pois tudo podemos suportar, com contentamento, naquele que nos fortalece – Jesus Cristo.
O sofrimento na caminhada cristã é pedagógico. É em meio a dificuldades que crescemos espiritualmente. O exemplo de Jesus Cristo e do próprio apóstolo Paulo, alem dos inúmeros homens de Deus mencionados nas Sagradas Escrituras, atestam que situações difíceis constituem importante oportunidade promovida por Deus para o aprendizado de lições espirituais profundas como esta que Paulo nos escreveu.


Aprender com o sofrimento, porém, não é um tema atrativo para os púlpitos, sobretudo em igrejas neo-pentecostais e pseudo-evangélicas. O que está na moda são os cultos voltados para alimentar o ego dos “crentes”. O centro do culto cristão em determinadas igrejas já não está em Deus, mas sim no homem e na sua satisfação pessoal. É o culto ao EU. Deus é apenas o meio para se conseguir com determinação o que os fiéis desejam. Esse deplorável comportamento tem invadido, inclusive, os púlpitos de Igrejas protestantes tradicionais. É cada vez mais comum que as igrejas reformadas se tornem "igrejas deformadas". Assistimos o abandono da arte e do ofício da verdadeira exposição bíblica. A Bíblia é ridicularizada ao ser utilizada como base para pregações que distorcem o texto sagrado, que dizem o que a Bíblia não diz.

Causa indignação observarmos as “correntes da prosperidade”, reuniões de “orações fortes”, a pregação do “pare de sofrer”, as promessas de casas, mansões, carros, dinheiro, de uma vida sem problemas, enfim, este é o evangelho que se prega às multidões! Esta propaganda falsa atrai muitas pessoas que se acostumam com a utopia de uma existência terrena desprovida de experiências de sofrimento, necessidade, fraqueza e aflição. São adeptos de um novo tipo de vida cristã. São os "super crentes". Gente idiota que é ensinada a decretar "bênçãos" do seu interesse; a rejeitar situações difíceis como sendo obra do diabo, e assim por diante. Esse pseudo-cristianismo imbecil é proclamado em cada esquina nos "fiteiros gospel" que são inaugurados aos montes como fruto de divisões de igrejas sérias por parte de líderes gananciosos e carnais.

Ora, que evangelho é esse, afinal? Onde está a cruz, o arrependimento, a renúncia, a mudança de atitude interior e não de classe social? É preciso entender que a fé não nos confere imunidade ao sofrimento. Não existe evangelho sem cruz! Jesus disse: “Neste mundo vocês terão aflições...”. O apóstolo Paulo é um exemplo claro de que a caminhada cristã exige renúncias e envolve sofrimentos e provações. O grande benefício disso tudo é que essas situações geram em nós maturidade e crescimento espiritual. O mais importante de tudo é como nos comportamos diante das provações e a quem nos apegamos nessas situações da vida. O apóstolo Paulo, antes mesmo de olhar para as dificuldades pelas quais atravessou, fixou seus olhos em Cristo, pois com Ele podia suportar todas as coisas.
A felicidade, a vitória e a prosperidade também fazem parte da vida que Deus planejou para nós, afinal nós já somos mais que vencedores em Cristo e temos certeza de que não há situação difícil que não esteja sujeita à vontade soberana de Deus. A questão aqui discutida se consubstancia em determinarmos quais são os nossos valores. Queremos experimentar a verdadeira vida cristã ou praticaremos um evangelho utilitarista de Deus?


O que precisamos entender é que, se servimos a Deus, não importa o que aconteça, podemos suportar e enfrentar alegremente e com gratidão toda e qualquer situação, porque nosso Deus nos fortalece e cuida de nós. Acima do que Deus nos pode proporcionar, mesmo que seja dor, o mais importante é estar nEle, pois é Ele que nos fortalece. Nele deve estar nosso contentamento! 

Deus é a nossa força em meio aos desertos e dentro das cavernas da vida, porque “ele age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam”. Jesus recomendou que em meio às aflições nós tivéssemos ânimo, porque Ele venceu o mundo. Já o apóstolo Paulo escrevendo aos coríntios declarou: “... regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte”.

É de fundamental importância percebermos que mesmo nas lutas e dificuldades, nós temos um Deus presente e que por cima está. Deus é por nós! Com Ele somos capazes de enfrentar toda e qualquer circunstância difícil inerente à vida humana. Tudo podemos suportar com contentamento quando temos a certeza de que estamos nEle, pois Ele é a nossa força e nosso auxílio. É Ele quem nos fortalece!

Com carinho,

André G. Bronzeado.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Salvos pela graça, por meio da fé


Desde que nascemos já trazemos conosco a “semente do pecado” que um dia, de alguma maneira, germinará, brotará e se manifestará na forma de atitudes pecaminosas. O pecado atingiu a toda humanidade destruindo a comunhão entre Deus e o homem. O único caminho que nos conduz a uma vida de comunhão com Deus é Jesus Cristo, que garantiu a nossa reconciliação com o Pai Celestial.

Através de Adão o pecado propagou-se a toda humanidade atingindo o homem em sua totalidade. A Bíblia ensina que “todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rom. 3:23). Adão e Eva, instigados pelo diabo, desobedeceram à ordem de Deus ao comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, que Deus os proibira de comer. Diante dessa desobediência, o pecado entrou no mundo, constituindo verdadeira epidemia espiritual na humanidade, transferida a todos os homens. É o que diz o apóstolo Paulo escrevendo aos romanos ao afirmar: “Portanto, como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso todos pecaram” (Rom. 5:12).
Deus, porém, provando o Seu grande, infinito e inigualável amor para conosco, sacrificou o Seu próprio Filho, Jesus Cristo, a fim de nos salvar, reconciliando-nos consigo. Jesus nunca pecou, mas levou sobre si os pecados de toda a humanidade, os nossos pecados. O sacrifício de Jesus na cruz do calvário nos livrou da culpa, do castigo e da condenação eterna. A Bíblia diz que “... Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Enfatiza, ainda, o apóstolo Paulo: “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rom. 5:8).


É pela graça, por meio da fé em Jesus Cristo e no Seu Evangelho que somos salvos. Nossa salvação não se baseia em méritos nossos nem na prática de boas obras ou caridade. Salvação não se compra; não se conquista como um troféu ou uma medalha e não é resultado de um empreendimento ou de esforços humanos. A salvação provém de Deus e pertence a Ele. É Deus quem nos salva através de Sua graça irresistível; Ele é Deus conquistador! As Sagradas Escrituras nos informam: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef. 2:8,9). Diante de Deus somos justificados pela fé em Cristo, e esta é um dom de Deus.

Ao analisarmos a história do malfeitor que foi crucificado ao lado do Senhor Jesus Cristo, deparamo-nos com a verdade bíblica aqui exposta na prática, a saber, que somos salvos pela graça, por meio da fé. A fé que como dom Deus concedeu àquele malfeitor fez a diferença e repercutiu diretamente na sua vida na eternidade, senão vejamos: 

“E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram, e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. (...) E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares em teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estará comigo no Paraíso”. (Lucas 23:33,39-43).

Como visto, um dos malfeitores blasfemava e zombava de Jesus; esse rejeitou a Jesus. O outro malfeitor, por sua vez, manifestou sua fé em Jesus Cristo ao dizer: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino”. Anote-se que este homem era um malfeitor, isto é, era alguém que vivia a praticar o mal. Quais eram, então, as boas obras ou os méritos daquele homem que pudessem lhe conferir meritoriamente a vida eterna? Jesus por acaso ordenou que aquele malfeitor descesse da cruz para praticar boas obras ou obedecer a sacramentos? Definitivamente não!

Aquele homem depositou a sua fé em Jesus Cristo e teve os seus pecados perdoados. Se dependesse dos seus méritos pessoais ou de fazer alguma coisa em prol de sua salvação certamente aquele homem estaria no inferno, já que o mesmo vivia a praticar o mal. Porém não foi isto o que aconteceu; Jesus lhe disse: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”.

Quando realmente cremos em Jesus Cristo de todo coração e obedecemos a Palavra de Deus, automaticamente flui em nós um profundo sentimento de amor ao próximo, o que nos leva a praticar boas obras, a termos um bom procedimento e a glorificarmos a Deus. Essas coisas todo cristão deve fazer, pois elas fazem parte da maneira de viver do crente. Não é através de obras, porém, que alcançamos a salvação. As boas obras estão intrinsecamente ligadas à fé, afinal, elas fluem quando temos uma fé viva no Deus vivo e são veredas que diantemão Deus preparou para que os eleitos andasse nelas! Sola Gratia, Sola fide.

Com carinho,

André G. Bronzeado.