domingo, 20 de setembro de 2009

Quatro olhares sobre a Cruz de Cristo




A imagem mais forte que alguém pode ver quando se depara com a mensagem do Evangelho é, sem dúvida, a imagem de Jesus Cristo crucificado. Não estou falando de obras de arte que, ao longo dos anos, tentaram retratar o sacrifício do Senhor Jesus por mera especulação e inspiração humanas. O que quero destacar é a necessidade de se expor a cena da crucificação de Cristo e o seu real significado com maior freqüência em nossas igrejas e junto às pessoas, uma vez que a cruz de Cristo tem sido esquecida por parte de muitos pregadores de nossos dias.
Não devemos, pois, esquecer que a cruz de Cristo deve estar no centro da pregação do Evangelho, afinal, Evangelho sem cruz não é o Evangelho da graça de Deus! Não se trata de exaltação da cruz em si, afinal ela é um símbolo de morte. Por outro lado, por causa de Jesus, a cruz ganhou um novo significado, pois foi sobre uma cruz que o nosso Senhor realizou uma grandiosa obra. Para nós cristãos, a cruz traz em si uma mensagem ímpar da vitória do Senhor Jesus sobre a morte e a Sua grande obra redentora.

Ao levar o homem a repousar seu olhar sobre a cruz de Cristo, fazendo-o imaginar a cena e a expressão do nosso Senhor sofrendo e morrendo naquele madeiro, certamente, em seu coração surgirão reflexões profundas que o levarão a ter consciência do que realmente é, em que estado está e quão profunda é a obra transformadora que Deus pode realizar ou já realizou em sua vida. Ao olhar para a cruz, o pecador se humilha e se rende à grandeza do Deus Conquistador. Olhando para a cruz, cada crente pode entender muito sobre a sua posição diante de Deus e quão grande obra foi realizada por Jesus sobre aquele lenho tão cruento.

É comum em nossos dias observarmos testemunhos cristãos confusos. Ao invés de olharem para a verdade cruel que a cruz revela acerca de nossa condição pecaminosa – além de uma expressão constrangedora de amor; muitos adeptos de igrejas pseudo-evangélicas concentram sua atenção para a mudança de classe social que Jesus teoricamente lhes pôde proporcionar. Não há um sentimento de profunda gratidão diante do fato que naturalmente merecíamos a condenação, de que éramos desprezíveis e indesejáveis, porém aprouve a Deus providenciar salvação, nos tirando das trevas para a luz.

Em alguns "segmentos evangélicos" não se fala mais em pecado, em cruz, em obediência, em sofrimento e em provações. Jesus virou apenas um parceiro, um verdadeiro sócio! Os crentes são ensinados a se tornarem parceiros de Jesus para conseguirem alcançar objetivos pessoais, sobretudo financeiros. "Associe-se a Jesus e viva mais feliz" - esta é a verdadeira máxima incutida no discurso evangelístico do nosso tempo. O resultado disso é uma espiritualidade doente, um relacionamento de barganha com o Criador e uma verdadeira desvalorização da obra redentora realizada pelo Senhor Jesus na cruz do Calvário. Não mais se enxerga o Calvário de vergonha e dor; não mais se vê tão grande revelação de amor e o que ela significa.
Pois bem, convido-os, ao contrário, a recordarmos a cruz e reafirmarmos nossa fé em tão grande revelação de amor. Se olharmos para a cruz sob a óptica da PROPICIAÇÃO, deparamo-nos com o fato de que, através da cruz de Cristo, Deus tornou favorável a Sua relação com o homem. Propiciar significa apaziguar ou pacificar a ira de alguém; é tornar favorável. Na narrativa bíblica, o propiciatório era a lâmina de ouro que cobria o tabernáculo dos hebreus, onde se ofereciam sacrifícios para propiciação, isto é, para promover a pacificação de Deus com o homem pecador (Levítico 16:14-15 e Romanos 3:24-25).
O Senhor Jesus, segunda pessoa da Trindade, foi designado por Deus para ser verdadeiro remédio para curar a culpa universal humana. A ira de Deus é causada pela Sua intolerância ao pecado, sob quaisquer formas ou manifestações, porém Deus, expressando sua misericórdia e graça, tomou a iniciativa para se reconciliar com o pecador consubstanciada, por sua vez, na obra realizada na cruz pelo Senhor Jesus Cristo. Jesus é a nossa propiciação! Na cruz nossa reconciliação com Deus se tornou possível.

Se olharmos para a cruz de Cristo sob a óptica da REDENÇÃO, temos que “redenção” significa libertação ou livramento. É apresentada no Novo Testamento como libertação da pena do pecado mediante o pagamento de um resgate. Jesus, através de Sua morte na cruz, pagou o preço de nosso resgate e nos libertou da culpa e do castigo oriundos do pecado. Redimir significa obter livramento ou soltura mediante o pagamento de um preço; é o mesmo que comprar de volta, resgatar.

Alguém pode perguntar: Qual é a situação da qual o homem precisa ser resgatado? Digo em verdade que tal questionamento é sobremodo oportuno. Ora, o cativeiro do qual fomos libertos consiste em nossas transgressões e pecados. Fomos libertos do pecado, mas nos tornamos servos do Senhor, porque ele nos comprou pagando um alto preço.

Gosto muito quando o Rev. Juan Carlos Ortiz (autor do livro ‘O Discípulo’ – Ed. Betânia, 1980), discorre sobre o fato de que quando fomos comprados pelo sacrifício de Cristo Jesus, deixamos de ser escravos do pecado e nos tornamos escravos do Senhor. Somos livres sim, do pecado, porém servos da justiça (Rom. 6:18). Daí encontrarmos tantas vezes no Novo Testamento expressões do tipo “Paulo, servo de Jesus Cristo”, “Tiago, servo de Jesus Cristo”. Anote-se que, no contexto em que viviam os primeiros discípulos do Senhor, a palavra “servo” significava escravo, alguém que não tem vontade própria ou autonomia pessoal, mas que serve de fato a um senhor. Conforme afirma o Apóstolo Pedro (1 Pedro 1:18-19), Cristo nos resgatou, pagando o preço de seu precioso sangue, como de cordeiro sem mácula pela nossa liberdade.

O terceiro olhar com o qual devemos nos debruçar sobre a cruz de Cristo é o olhar da JUSTIFICAÇÃO. Sob esta óptica, deparamo-nos com uma marcante ação divina por meio da qual o Senhor Deus nos faz entrar em um relacionamento correto com Ele. É uma declaração de inocência ou de justiça, libertação da culpa ou da reprovação, algo garantido pelo Senhor Jesus Cristo na cruz do Calvário.

Em síntese, Deus – como Juiz – além de declarar o pecador inocente pelos méritos de Cristo, concede-lhe uma posição justa perante Ele. Conforme afirma o Apóstolo Paulo escrevendo aos Romanos acerca do sacrifício salvífico de Jesus, “assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida”. (Romanos 5:18). Destaque-se que uma das faces dessa justificação se dá através da fé no fato de que Cristo é nosso advogado junto ao Pai (1 João 2:1-2). Perceba quão grande bênção decorrente da Salvação: em Jesus somos declarados justos perante Deus!

O quarto olhar segundo o qual devemos nos voltar para a cruz de Cristo se dá sob a óptica da RECONCILIAÇÃO. Reconciliar significa restaurar um relacionamento, renovar uma amizade quebrada ou rompida. Em Romanos 5:9-11, o Apóstolo Paulo trata do fato de que nós, na condição de inimigos de Deus devido ao pecado, fomos reconciliados com Deus mediante a morte de Seu Filho.

Deus, como Pai, traz os filhos à comunhão, isto é, à reconciliação. Lendo o texto constante na Segunda Epístola de Paulo aos Coríntios 5:18-21, aprendemos que Deus é o autor da reconciliação; que Cristo é o agente da reconciliação; e que nós somos embaixadores da reconciliação. Na cruz de Cristo, o relacionamento entre Deus e o homem, outrora quebrado pelo pecado, é restaurado através da bênção da reconciliação. Em Jesus nos reconciliamos com Deus!

Olhar profundamente para a cruz de Cristo nos leva a refletirmos sobre a grandiosa obra salvadora que Jesus Cristo realizou por nós pecadores. Quando percebemos a profundidade e o real significado do sacrifício do Senhor na cruz, deparamo-nos com um amor incondicional e constrangedor, afinal nós o amamos porque Ele nos amou primeiro.

O reconhecimento de Jesus Cristo como Salvador e Senhor, que se revela pela entrega total e uma vida de gratidão e obediência a Deus, são marcas da verdadeira conversão, resultando em um verdadeiro testemunho de vida com Deus. Não há testemunho cristão mais belo e verdadeiro que este: Eu estava perdido, mas Jesus me resgatou das trevas e me salvou. Tudo isso foi garantido pelo seu sangue derramado na cruz e, por isso, até que os meus dias se findem, irei sempre proclamar a mensagem da cruz de Cristo!
Que Deus nos abençoe.

André G. Bronzeado

Imagem:
http://pregacoesfn.files.wordpress.com/2009/03/cruz-de-cristo.jpg

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