terça-feira, 8 de junho de 2010

Maria é nossa mãe?

No lugar chamado Calvário, ergueu-se a cruz de vergonha e dor na qual puseram Jesus, o unigênito Filho de Deus. No cimo da cruz estava escrito: “Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus." Junto à cruz estavam a mãe de Jesus; a irmã dela; Maria, mulher de Clopas e Maria Madalena.

Pronto. Nesse cenário de tristeza e dor, o Senhor Jesus, numa admirável demonstração de preocupação com o próximo, ainda que mergulhado em dores insuportáveis somadas a uma angústia mental intensa, parou, olhou para sua mãe e para o discípulo João que estava ao seu lado e então lhes disse: “Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe”. Pouco depois inclinou a cabeça e rendeu o espírito.

O texto bíblico que consta no Evangelho Segundo João 19:26-27 e que narra o episódio acima, é utilizado pela igreja romana para embasar a crença de que o Senhor Jesus colocou sua mãe na posição de co-mediadora, co-redentora e mãe de toda a humanidade, isto é, segundo o catolicismo romano, Maria coopera com a redenção da humanidade e, nesse episódio citado, João simboliza toda a humanidade.

Ora, para responder à questão, transcrevo o comentário sobre esse texto bíblico constante na Bíblia Apologética (ICP), senão vejamos: “Não há, em qualquer ponto da Escritura, texto que possa conferir a Maria semelhantes atribuições. O que está suficientemente claro nesta passagem é que Jesus estava atendendo à sua própria Palavra, quando recomendou o cuidado com as viúvas, presas fáceis aos desonestos fariseus (Mt. 23.14; Lc. 20.47). Jesus cumpre seu dever como filho primogênito de Maria, não a deixando desamparada, atendendo, até a morte, o que determinava a “letra da lei”no quinto mandamento, num excepcional exemplo de obediência. Ou seja, mesmo à beira da morte, preocupa-se com os seus semelhantes” (p. 1078).

Tendo afirmado isto, quero enfatizar o fato de que o objetivo do presente estudo não é subestimar ou desprezar a pessoa de Maria, a mãe de Jesus, mas sim apresentar biblicamente quem verdadeiramente foi Maria. Sem dúvida alguma, Maria foi a mais bem-aventurada de todas as mulheres, uma vez que foi escolhida para ser a mãe de nosso Senhor Jesus Cristo. Além disso, Maria era um exemplo de fé; era uma mulher extremamente temente a Deus.

Quero apresentar o grande exemplo de fé, consagração e de obediência a Deus que Maria sempre foi. Ocorre que ela foi uma mulher escolhida por Deus para ser a mãe do Seu Filho, pelo lado humano, e não para ser uma deusa como pretende o catolicismo romano, pois não tinha ela qualquer atributo de divindade. Refuto, portanto, a deificação de Maria, isto é, o ato de atribuir caráter divino à sua pessoa.

A Bíblia deixa claro que Maria foi escolhida por Deus para ser a mãe do Salvador da humanidade. Aprouve a Deus, em seu infinito amor, salvar o homem pecador perdido. O salvador enviado por Deus foi o Seu Filho, que deveria assumir a forma humana, através da concepção no útero de uma mulher virgem, conforme diz o profeta Isaías “A virgem ficará grávida e dará a luz um filho, e ele se chamará Emanuel” (Isaías 7:14). De fato, decorridos mais de setecentos anos, a profecia se cumpriu. No propósito de Deus a escolhida foi Maria, uma jovem simples e de vida consagrada.

Sendo Maria uma jovem temente a Deus e tendo uma vida de comunhão com o Senhor, ao perceber que Deus a escolhera para ser a mãe de Seu Filho (humanamente), expressou seu sincero sentimento no seu Magnificat, ou seja, no Cântico de Maria, um das mais belas passagens bíblicas e que merece nossa leitura (Lucas 1:46-55).

Maria declara: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador”. Tal declaração, além de uma sincera manifestação de gratidão da mulher mais agraciada que pisou nesse mundo, é a expressão do reconhecimento de que Maria é pecadora e que precisa de salvação. Ora, se alguém chama Deus de salvador é porque necessita de salvação. Maria, como qualquer ser humano, não foge à regra consubstanciada no texto de Romanos 3:23, a saber, “Porque todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”.

Pois bem, alguém deve estar se perguntando o porquê do culto à Maria pela igreja romana. Como e quando isso surgiu? Os primeiros cristãos cultuavam Maria como deusa? Enfim, para obtermos as respostas destas e de outras perguntas precisamos buscar ajuda na História, ciência humana baseada em fatos contra os quais não adianta lançar argumentos.

O fato é que até meados do IV século d.C, a Palavra de Deus era pregada de forma fidedigna; os cristãos eram extremamente perseguidos e levados à morte de maneiras cruéis. Nesse contexto, o Império Romano, que estava em decadência moral, financeira e religiosa, para sobreviver, penetrou no cristianismo de forma oportunista atraído pela pregação cristã em relação aos bens materiais e aos pobres. A igreja pós-apostólica cresceu rápido como religião oficial do império, consolidou-se e depois se deformou.

Em 313 o Imperador Constantino transformou o cristianismo em religião oficial do império romano. Em 380 o imperador Teodósio elevou o cristianismo como a religião civil. O paganismo se constituía em uma ofensa política, passando a ser perseguido. Em 381, o nome da igreja cristã foi mudado para Igreja Católica Apostólica Romana.

Em 431 foi instituído o culto à Maria, mãe de Jesus. O objetivo da igreja católica romana era atrair ao Cristianismo as mulheres que serviam a deusas pagãs, já que a fé cristã se centrava nas pessoas do Deus Pai, do Deus Filho e do Deus Espírito Santo. Precisava-se, então, de uma mulher que figurasse como deusa. A ideia era colocá-la como mediadora dos homens, considerando que ela uma vez pediu ao Filho, nas bodas de Caná, para resolver o problema da falta de vinho, e Jesus lhe atendeu transformando água em vinho.

Devido a este episódio, deduziu-se que, quem pedisse algo à Maria, ela intercederia junto ao Filho para resolver o problema. Partindo do princípio que o filho sempre obedece à mãe, chegou-se à concepção de que Jesus estaria subordinado à Maria. Tal pensamento, porém, é um grande absurdo. Jesus é Deus enquanto que Maria é um ser humano. É correto dizer que a própria Maria é filha de seu próprio filho. Jesus é Deus e não obedece ordem de nenhum ser humano. Como Deus Jesus sempre existiu, enquanto que Maria é temporal. É preciso tomarmos o cuidado de separarmos, para efeito de análise, as naturezas humana e divina de Jesus Cristo. Jesus honrou Maria humanamente como sua mãe, mas como Deus não está submisso à vontade dela, como não está submisso à vontade humana.

A essência da adoração na igreja católica romana passou a girar em torno da pessoa de Maria, a quem os católicos romanos chamam de “Nossa Senhora”. Sob a influência pagã, a igreja romana escolheu Maria como deusa, inspirando-se nas divindades pagãs femininas da antiguidade, a saber: Diana (Romanos), Ísis (Egípcios), Artarde (Fenícios), Semírames (Caldeus) e Ártemis (Gregos). As três principais influências, entretanto, para a criação do mito “Maria, mãe de Deus” foram ISIS, DEMÉTRIA e CIBELE.

Para justificar a divindade de Maria, a igreja romana começou a transferir para Maria as atribuições do Senhor Jesus Cristo registradas na Bíblia Sagrada. O concílio do Vaticano II chegou à seguinte conclusão: “A bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de advogada, auxiliadora e medianeira”.

Como máxima expressão de sua heresia e desvio, o catolicismo romano passou a atribuir à Maria características que não encontram qualquer respaldo bíblico construindo, assim, uma deusa que nada tem a ver com a humilde e bem-aventurada Maria, mãe do Senhor.

Só para citar, dentre outros, a Maria da igreja romana possui os títulos de: Ancora da Salvação (Atos 4:12); Sofreu por nós (Hebreus 10:12 e 14); Deu a vida por nós (Romanos 5:8); Portadora da graça (João 1:17); Intercessora para perdão de pecados (1 João 1.7); O caminho da salvação (João 14.6); Nosso conforto (Mateus 11.28); Nosso auxílio no tribunal divino (Romanos 8.1); Nossa advogada (1 João 2.1); Onipotente (Mateus 28.10 / Apoc. 1.8); Toda honra deve ser tributada à Maria (João 5.23); Nossa mediadora (1 Timóteo 2.5); Concebida sem pecado (Romanos 3.23); Rainha do Céu (1 Coríntios 8.5-6).

Em 1317 a reza “Ave Maria” foi escrita e instituída pelo papa João XXII. O Vaticano também declarou o dogma da Imaculada Conceição de Maria afirmando que ela foi concebida sem pecado, nos seguintes termos: “Daí não admira que nos Santos Padres (papas) prevalece o costume de chamar a mãe de Deus toda santa, imune de toda mancha de pecado, como que plasmada pelo Espírito Santo e formada nova criatura”. Não é isso que o Apóstolo Paulo escreve em Romanos 3.23 e 5.12! Não bastasse tais absurdos, em 1950 o Vaticano aprovou o dogma da Assunção de Maria, em uma alusão à ascensão de Jesus. Segundo a igreja romana, assim como Jesus, Maria foi assunta aos céus.

A igreja romana ainda interpreta que o texto de João 2.1,2 é a base para o dogma de que Maria é a mãe de Deus, aprovado no concílio de Éfeso em 431 d. C. A heresia parte da palavra theotókos (mãe de Deus), título conferido à Maria. A referência em grego (língua original) do texto lido é “meter ton Iesous” que significa “mãe de Jesus” e não mãe de Deus como sugere a igreja romana. A referência diz respeito ao lado humano de Jesus.

Enfim, concluindo essa exposição, cumpre-nos retornarmos ao Cântico de Maria, no qual enxergamos a verdadeira Maria. Identificamos que a Maria da Bíblia era uma serva de Deus humilde, submissa à vontade soberana de Deus, necessitada de salvação e, sobretudo, extremamente grata a Deus. Nós protestantes amamos e respeitamos a Maria da Bíblia; seu exemplo de fé e obediência deve ser uma inspiração para nossas vidas.

Porém, como cristãos genuínos devemos aprender a distinguir a Maria mãe de Jesus apresentada nas Sagradas Escrituras da Maria que foi criada ao longo dos séculos para ser idolatrada pela igreja romana como deusa. Que você possa enxergar simplesmente Maria, a serva do Senhor, bendita entre as mulheres, escolhida por Deus para ser a mãe do Salvador da humanidade: Jesus Cristo, o Filho de Deus.

Maria nunca se intitulou deusa, nunca atraiu para si qualquer veneração, nunca ofuscou o ministério do Filho de Deus, nunca se considerou mãe de Deus ou nossa mãe. Maria realizou com zelo e amor tudo aquilo que Deus lhe confiou. Maria sempre reconheceu Jesus Cristo como o centro da pregação do Evangelho, afinal, todo o plano de Salvação está centrado no Senhor Jesus Cristo.

Se eu pudesse afirmar que Maria nos deixou um mandamento, certamente meu palpite seria este: “fazei tudo o que ele (Jesus) vos disser” (João 2.5). Portanto, como nos recomendou Maria, que cresçamos em conhecer ao Senhor obedecendo a tudo o que Ele nos mandar.

----------------------------------------------------------------------------------------
REFERÊNCIAS:

Bíblia Apologética de Estudo, 2.ed., Instituto Cristão de Pesquisas.
LUCENA, José de Arimatéia Menezes de, Porque simplesmente Maria, Ed. UFPB.