segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O JEJUM COMO DISCIPLINA ESPIRITUAL

Recentemente estive participando de mais uma jornada de oração e jejum durante quarenta dias. Esse tipo de programação sempre me desafia e me empolga a buscar ao Senhor em oração e a meditar ainda mais em Sua Palavra.
            
Comumente em atividades desse tipo a prática do jejum é proposta aos participantes e esta consiste em não se alimentar por um certo tempo de forma voluntária. Não desejo aqui entrar no mérito daqueles que estendem a prática do jejum a qualquer coisa ou hábito que tenha de alguma maneira se tornado 'indispensável' em suas vidas como, por exemplo, abster-se de acessar a internet ou de assistir TV por um período.

É também comum vermos que muitos apelos para que pratiquemos o jejum vêm acompanhados da ideia de que a oração somada ao jejum tem uma espécie de “plus”, ou seja, torna-se mais forte. Com isso, somos tentados a alimentarmos a falsa ideia de que o jejum é um tipo de “sacrifício” ou uma "autoflagelação" capaz de nos purificar e ao mesmo tempo de mover o coração de Deus de modo a atender às nossas orações.

Quem nunca ouviu um líder de uma comunidade conclamar os irmãos a jejuarem em função de algum grande interesse? “Irmãos, esse assunto é sério, então precisaremos jejuar para que Deus faça a obra!” “Amanhã vamos evangelizar, portanto, vamos jejuar para que tudo dê certo e muitas pessoas se convertam!

Biblicamente, porém, o jejum nos é apresentado como uma disciplina espiritual e o seu objetivo não é mudar o modo como Deus responde as nossas orações, muito menos tem a função de torná-las mais eficazes, mas sim de mudar a nós mesmos! O jejum não muda Deus ou o modo pelo qual Ele nos vê. O jejum muda o nosso interior e isso repercute diretamente no nosso relacionamento com Deus.

Quando jejuamos, normalmente nos abstemos do que é mais básico, indispensável e fundamental para a nossa existência, a saber, os alimentos. Ao fazermos isto, estamos ensinando para nós mesmos que podemos viver sem atender aos nossos desejos mais básicos e legítimos, podemos dizer não aos apelos de nossa carne, podemos viver sem atender às nossas necessidades mais elementares, ou seja, dizemos não ao nosso próprio “eu” porque de fato só encontramos a plena satisfação em Deus e na Sua presença. É Deus o nosso alimento mais necessário e indispensável, sem o qual não podemos viver. 

O jejum nos ensina que dependemos de Deus para vivermos assim como um galho precisa estar ligado à árvore para se manter vivo, por isso nada é mais indispensável do que estarmos ligados a Ele. A pedagogia do jejum nos mostra que Deus é mais indispensável do que tudo aquilo que imaginamos ser indispensável, é mais necessário do que tudo aquilo que imaginamos ser necessário.

Sendo assim, é o jejum uma disciplina espiritual e deve ser feito com dedicação de tempo em oração. Não há sentido em jejuar apenas deixando de comer sem sequer parar para orar, para ler a Palavra, meditar no que lemos e realmente nos alimentarmos da presença de Deus. 

Talvez os que entendem o jejum como um “plus” ou uma forma de “autoflagelação” ou “sacrifício” para tentar agradar a Deus e obter uma resposta positiva às suas orações, podem estar interpretando erroneamente a narrativa constante no Evangelho de Mateus 17:21, quando Jesus declara aos discípulos que não conseguiram expulsar um demônio as seguintes palavras: “Mas esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum”.

O texto em comento, porém, não reforça tal ensino! Observando o contexto, é de se notar que um homem trouxe o seu filho endemoninhado aos pés de Jesus dizendo que havia procurado os seus discípulos, porém os mesmos não lhe puderam curar. Nesse ponto Jesus exclama: “Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui o menino”. Logo em seguida Jesus repreendeu o demônio e o expulsou do menino.

Em ato contínuo os discípulos preocupados perguntaram a Jesus o motivo que não puderam expulsá-lo, ao que Jesus respondeu: “Por causa da pequenez da vossa fé”. É interessante notar que a fé dos discípulos não era pequena porque lhes faltava confiança ou não esperassem o sucesso, mas porque a expectativa deles não era baseada em um relacionamento apropriado com Deus.

Jesus não lhes deu uma receita para terem uma oração mais forte ou uma dica para terem respostas positivas em suas orações. Jesus tratou um problema de fé, de relacionamento com Deus. Aqueles discípulos precisavam entender que eles veriam a graça de Deus nos seus ministérios quando tivessem um relacionamento real com Deus e isso é construído diariamente, de fé em fé através das disciplinas espirituais como a oração, a leitura bíblica e o jejum.

O que Jesus estava ensinando àqueles homens é que eles precisavam levar a sério a vida com Deus. Isto nos mostra o quanto o jejum como disciplina espiritual visa mudar o nosso interior e o nosso relacionamento com o Senhor. Os discípulos, assim como nós, precisavam viver uma fé viva e verdadeira!


Sendo assim, que de fato pratiquemos o jejum não com a intenção de barganharmos com Deus a fim de conseguirmos algo que muito desejamos, antes pelo contrário, tendo a plena confiança na soberania de Deus e que nossas orações e jejuns não têm a finalidade de mudar os Seus desígnios, que desejemos ardentemente através do jejum, nos satisfazermos com a presença de Deus como prática prazerosa e transformadora, para assim alimentarmos verdadeiramente a nossa fé!

André G. Bronzeado

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Um apagão espiritual


“Que sejas meu universo
Que sejas tudo o que sinto e o que penso
Que de manhã seja o primeiro pensamento
E a luz em minha janela”
(Meu Universo, PG)

Nessa quarta-feira (28) o nordeste brasileiro foi afetado por um apagão que interrompeu o fornecimento de energia elétrica na região por algumas horas. Na Paraíba, o fornecimento de energia foi prejudicado por volta das 16h00 e só retornou no início da noite, gerando inúmeros transtornos nas principais cidades, como João Pessoa e Campina Grande.

No momento do blackout eu estava trabalhando a todo vapor no escritório e custei a acreditar que o problema fosse tão sério a ponto de atingir toda a região nordeste. Imaginei ser apenas mais uma queda de energia que logo seria solucionada, como sempre ocorre.

Porém, não demorou muito para que eu sofresse com algumas consequências da falta de energia elétrica. Observei ansioso o tempo de autonomia da bateria do meu notebook, fiz o mesmo com o meu smartphone, a escuridão e o calor tomaram conta da minha sala, já não podia imprimir os meus trabalhos, a rede wireless não mais funcionava e o som incômodo de dezenas de buzinas vindas de um trânsito caótico lá fora perturbava os meus ouvidos. Tudo isso em apenas 10 minutos sem energia elétrica.

De fato, em meio a euforia me pus a refletir e observar os mais diversos transtornos que uma simples falta de energia elétrica pode causar em nossa sociedade. São serviços em geral suspensos tais como telefonia, internet, dentre outros; o trânsito se torna insuportável devido ao não funcionamento dos semáforos; os doentes nos hospitais dependendo de geradores; pessoas presas em elevadores; enfim, observamos uma série de desconfortos causados pelo impacto de não dispormos de algo que se tornou tão essencial para a humanidade após o final do século XIX, quando a energia elétrica passou a ser fornecida para o uso industrial e residencial, transformando os hábitos das sociedades a partir de então.

Atualmente, a indústria, os transportes, o aquecimento, a iluminação, as comunicações e a computação dependem do fornecimento da energia elétrica, de modo que não consigo imaginar como seriam as nossas vidas sem este recurso a disposição a um click.

Tal constatação, porém, levou-me a refletir sobre algo mais profundo e infinitamente mais essencial para a nossa existência: Como não suportamos ficar alguns minutos sem algo que julgamos ser “essencial” para as nossas vidas e por outro lado somos capazes de nos esquecermos de Deus com tanta facilidade e por tanto tempo mesmo o considerando “o mais essencial”  no nosso dia-a-dia?

É impressionante como ficamos tão incomodados quando nos privamos de internet, de energia elétrica, de um computador, das redes sociais e etc., mas não nos sentimos tão incomodados assim quando no nosso cotidiano não separamos tempo para as disciplinas espirituais como oração, leitura bíblica, participação nos cultos, etc. A falta dessas disciplinas espirituais - que são meios de graça - muitas vezes parece não nos fazer a menor falta!

É comum procurarmos a Deus quando estamos desesperados para resolvermos os problemas com os quais nos deparamos. Deus se torna apenas uma espécie de pronto-socorro – um 192 - que só é lembrado quando temos interesses em jogo.

Enquanto nos satisfazemos com tudo o que nos traz conforto e quando está tudo bem, nós procuramos nos preencher de tudo o que nos traz satisfação e prazer, porém comumente nos esquecemos de Deus no nosso dia-a-dia. Encontramos tempo para as mais diversas atividades, mas não encontramos tempo para Deus.

Ao colocarmos tantas coisas acessórias como sendo indispensáveis e essenciais em nossas vidas, acabamos por suprimir o que é verdadeiramente vital e consequentemente ofuscamos a luz do que é insubstituível, Aquele que não se apaga, Aquele que não dorme, Aquele que não sofre um blackout mesmo quando negligentemente nos esquecemos de olhar para Sua luz.

O mais importante é que, ao refletirmos sobre isso, não equiparemos os mais diversos meios de satisfação que encontramos ao nosso dispor com Aquele que de fato é o único que pode nos dar plena satisfação e prazer.

Independente se nos lembramos ou não, a presença de Deus é insubstituível e indispensável para a nossa existência. Mesmo sem percebermos, Deus cuida de nós. Ele é soberano e sustenta todas as coisas com a Sua mão. Não há um átomo no universo que não esteja debaixo de sua soberania. As Suas misericórdias se renovam a cada manhã, Ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. O nosso respirar depende dele, nosso alimento e a nossa existência só são possíveis por Sua vontade.

Daí porque não há sentido em nos satisfazermos com o acessório e nos esquecermos do principal. Em Deus devemos encontrar a plena satisfação e nosso maior prazer. Ele deve ser o mais essencial em nossas vidas, a razão do nosso viver.

Como ensina o Breve Catecismo de Westminster: O fim principal do homem é glorificar a Deus, e alegrar-se nele para sempre. Isso de fato dá sentido à nossa existência. Deus não é apenas essencial, é Ele quem nos proporciona a existência e a verdadeira satisfação.

Que verdadeiramente encontremos a plena satisfação de nossas vidas em Deus. Que Ele seja para nós, não apenas teoricamente, mas no mais profundo do nosso ser, o que há de mais essencial. Que Ele seja o nosso universo, como diz a bela canção. Que a Sua presença e o Seu poder sejam para nós como o alimento sem o qual não podemos viver. E que essa corrente não sofra nenhum blackout, mas que estejamos sempre ligados no Senhor!

André Bronzeado.


terça-feira, 2 de julho de 2013

CULTO x JOGO - A celebração do futebol

“O fariseu orava consigo desta maneira: ‘Ó Deus graças te dou porque não sou como os demais homens’” (Lucas 18:11)

Nosso país está em ebulição. Manifestações por toda parte e pelos mais diversos motivos marcaram todo o mês de junho. A Copa das Confederações teve o Brasil como palco e o espetáculo do futebol aconteceu nas tão questionadas arenas de superfaturadas construções. E a grande final da competição ocorre no novíssimo Maracanã, em pleno domingo, às 19 horas, coincidentemente o momento em que, em dias normais, a maioria dos cristãos protestantes estaria em suas igrejas a cultuar a Deus no culto vespertino dominical.

Pronto, diante dessa coincidência de horário, logo surgiram inúmeras publicações e frases nas redes sociais apresentando inúmeras críticas e até mesmo questionamentos sobre a autenticidade da vida cristã de pessoas e igrejas que iriam participar ou realizar o culto em horário diferente do normal. A maioria dessas publicações foi marcada pela ironia, pela acidez de palavras duras e pela presunção de uma espiritualidade superior.

Diante desses desabafos, muito deles até legítimos diante do direito à opinião, senti-me impulsionado a refletir sobre a máxima do Apóstolo Paulo que diz: "Se não tiver amor, nada seria".

O desabafo de quem considerou um erro a mudança de horário do culto de algumas igrejas é legítimo e de fato tal opinião deve ser respeitada. O fato é que, mudar ou não mudar o horário do culto deve ser visto de acordo com a conveniência e maturidade da comunidade, afinal nossas igrejas fazem isso naturalmente em várias ocasiões do ano pelos mais diversos motivos, muitos deles de uma irrelevância incrível!

O que falta em muitos discursos divergentes à alteração do horário de culto é amor e respeito. Exortação sem amor não promove crescimento, não tem efeito algum. Santidade com soberba é farisaísmo total, é sepulcro caiado.

Realmente, é indiferente para mim ver a seleção brasileira de futebol jogar. Não sou – e quem me conhece sabe – fã de futebol. O que não tenho direito é de medir a espiritualidade de alguém pelo fato desse alguém de ter ido ao culto no domingo ou não, ou no caso de ser uma igreja, pelo fato de ter mudado o horário de culto ou não.

O culto não é um fim em si mesmo. O culto solene é um ajuntamento de pessoas em horário pré-determinado e que só tem real efeito e sentido quando nossa vida é um culto. No último domingo, teve gente indo ao culto "arrotando" espiritualidade (ou aparência dela) apenas para dizer que ir a igreja é mais importante que ver o jogo. Ora, para um crente sincero isso é óbvio. Para o fariseu isso é um fim em si mesmo. Motivação errada!

Se uma igreja manteve o seu horário de culto normal, ótimo, glória a Deus! Mas isso não dá o direito de dizer que a igreja que mudou o horário é menos "crente" ou menos “digna” do que outra. Estaremos nós repetindo o propósito de orar do fariseu em Lucas 18 citado acima? Afinal, sejamos sinceros - já que é para sermos - será mesmo que todos esses "verdadeiros crentes" com seus dedões apontados nunca deixaram de ir ao culto pra ir a uma festinha de aniversário? Será que nunca ficaram em casa por estarem "cansados"? Ou por estarem com visita? E para "estudar", então? 

Ora, quando não há culto na vida, não há vida no culto. Quantas vezes deixamos de lado a Santa Palavra de Deus para darmos audiência a novelas, para irmos ao cinema, para passarmos o dia no Facebook, para corrermos atrás de paqueras, etc... Quantas pessoas, mesmo estando no culto nesse domingo, não usaram seus 
smartphones para conferir o placar do jogo durante o culto?

Não apenas na final da Copa das Confederações, mas sim na vida, somos o tempo todo colocados diante do dilema que muitos apontaram nesse final de semana: "culto ou jogo?". Esse dilema existe não é porque somos crentes ou não, é porque somos HUMANOS. Fariseus não são humanos! Fariseus nem sequer pecam! Fariseus não se sentem impuros ou pecadores carecedores da misericórdia do Eterno!

Talvez devêssemos mesmo transformar nossas igrejas em monastérios nos isolando do mundo em que estamos, cortando totalmente a comunicação com os nossos semelhantes e com o mundo em que vivemos e onde devemos ser influência de transformação. Talvez devêssemos mais ainda nos esquecer do que disse Jesus Cristo quanto ao fato que embora não sejamos do mundo, estamos nele.

O “mundo” apresentado negativamente nas Escrituras não é o mundo físico em si, mas sim o sistema de valores que aqui impera por conta do pecado.

A mudança de horários dos cultos do último domingo em igrejas sérias - como a minha - não foi uma decisão movida em função do jogo, mas sim em função do Culto. É exatamente pelo fato que nada poderia atrapalhar o culto e para preservá-lo que a mudança ocorreu. Com o culto mais cedo não disputamos a atenção com fogos, não enfrentamos trânsito caótico, a insegurança de arruaceiros, motoristas embriagados, etc... e porque não dizer a nossa própria mente!?. Foi por esse motivo que essas igrejas se reservaram mais cedo.

Domingo, participei de um culto abençoadíssimo na minha comunidade. Ouvi a Palavra de Deus que de forma contundente tocou meu coração e renovou minha fé. O culto... não foi apressado, pois a presença de Deus é insubstituível, indispensável e inabalável em todos os momentos da nossa história, estando dentro de um culto ou não, mesmo que lembremos disso ou não.

Fui para casa, o jogo já estava na metade do segundo tempo e ao lado de irmãos em Cristo - em comunhão - alegramo-nos com o Brasil. Sinceramente, não me senti menos crente por isso. Que Deus nos abençoe.

Com carinho,

André Bronzeado.

domingo, 30 de junho de 2013

O cego Bartimeu que há em mim

E foram para Jericó. Quando ele saía de Jericó, juntamente com os discípulos e numerosa multidão, Bartimeu, cego mendigo, filho de Timeu, estava assentado à beira do caminho e, ouvindo que era Jesus, o Nazareno, pôs-se a clamar: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!   E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele cada vez gritava mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!  Parou Jesus e disse: Chamai-o. Chamaram, então, o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, ele te chama.  Lançando de si a capa, levantou-se de um salto e foi ter com Jesus.  Perguntou-lhe Jesus: Que queres que eu te faça? Respondeu o cego: Mestre, que eu torne a ver.  Então, Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E imediatamente tornou a ver e seguia a Jesus estrada fora. (Marcos 10:46-52)

Este relato bíblico é por nós bastante conhecido. O que me chama atenção ao debruçar-me sobre este escrito encravado no Evangelho de S. Marcos é que consigo identificar um cego Bartimeu dentro de mim. Isso mesmo! Dentro de cada um de nós que, sem qualquer merecimento e sem termos a menor capacidade, fomos alcançados pela graça salvadora de Deus através do Seu Filho, o nosso Senhor Jesus Cristo.

Observando o contexto, Jesus estava a caminho de Jerusalém, o local aonde iriam se cumprir todas as profecias proferidas pelos profetas sobre o Messias no Antigo Testamento. Esses eram os últimos momentos de Jesus antes da sua crucificação.  Podemos dizer que estes versos que citamos acima são como um hífen, marcando uma ligação de dois momentos da vida de Jesus, o seu ministério e a sua morte.

Encontramos nessa história três posturas do cego Bartimeu que, intencionalmente ou não, muito se parecem com as nossas posturas, sobretudo no que tange à nossa comum salvação, de modo que, olhando para nossa própria experiência, podemos descobrir o cego Bartimeu que há em nós e o quanto foi sublime o nosso encontro com Cristo.

A primeira postura que nos chama a atenção nesse encontro é que Bartimeu reconheceu Jesus Cristo como sendo o Salvador. É importante registrar que no contexto em que vivemos - uma sociedade pós-moderna - ter uma verdade absoluta é sinônimo de algo absurdo, de intolerância, de falta de intelecto. 

Atualmente as pessoas criam suas próprias verdades, constroem sua própria realidade. Afirmar que Jesus Cristo é o salvador é algo essencial, porém um grande desafio em nossos dias. Ele é o Caminho, a verdade e a vida.

Bartimeu era cego, vivia na escuridão de uma enfermidade que lhe impedia não apenas de ver a vida, mas de viver. Bartimeu apenas sobrevivia. Sem esperanças, na beira de um caminho, sozinho, tinha as janelas fechadas ao horizonte, tinha a escuridão como paisagem de sua existência.

Aquele homem, porém, ouviu falar acerca de Jesus e reconheceu que nele estava a salvação, por isso exclamou: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim”. Aqui há duas questões importantes. Em primeiro lugar, ao chamar Jesus de “Filho de Davi” – expressão até então rara – Bartimeu apontou para Jesus Cristo como sendo o verdadeiro Messias, o Cristo. Em segundo lugar Bartimeu clama por compaixão. Ora, quem pede compaixão é porque reconhece sua própria condição. Bartimeu reconhece sua própria condição de pecado e quem verdadeiramente pode salvá-lo.

Assim também somos nós. Nascemos pecadores, crescemos presos à escuridão, sem vida em verdade, sem esperança. Quando ouvimos a Palavra de Deus e somos tocados pelo Senhor ficamos como aquele cego. Queremos conhecer a Jesus! Queremos ser tocados por Ele. Queremos ser acolhidos e nos entregarmos a Ele como a nossa única esperança na escura beira da vereda da vida.

A segunda marcante postura de Bartimeu foi não dar ouvidos aos conselhos do mundo ao redor. O texto mostra que não poucas, mas muitas pessoas repreendiam e colocavam obstáculos para que Bartimeu chegasse até Jesus. Porém Jesus parou e chamou a Bartimeu e então todos os que antes atrapalhavam tiveram que leva-lo até o Mestre.

Assim acontece conosco. A multidão grita aos nossos ouvidos o tempo todo nos ensinando os padrões do sistema desse mundo como sendo os melhores para levarmos as nossas vidas. O mundo tenta obstaculizar toda atitude que nos faz olhar para Deus. A multidão sempre quer nos aprisionar nos valores e padrões do mundo.

O mundo odeia a Cristo. Assim como Bartimeu, não devemos nos deixar levar pelo que o mundo quer. O sistema de valores desse mundo só nos leva a amar aquilo que Deus odeia, a se alegrar com aquilo que o entristece e a reverenciar aquilo que Ele despreza. Bartimeu não podia sequer ver, mas tinha foco, tinha objetivo e este era olhar para Cristo!

O fato de Jesus ter parado e chamado Bartimeu nos remete à verdade que a salvação não é resultado de um esforço nosso. É Deus quem nos salva! É ele quem nos chama e quando isto ocorre ninguém pode impedir, multidão nenhuma nos impedirá de experimentar a irresistível graça de Deus e o seu chamado eficaz.

É interessante também notar que aquele grupo de pessoas que colocava obstáculos entre Bartimeu e Jesus não representa apenas o mundo, antes pelo contrário, era formada pelos próprios seguidores de Cristo! Infelizmente essa realidade é muito atual, mas ao mesmo tempo fez parte da igreja cristã em todas as épocas, pois embora o papel da igreja seja conduzir as pessoas a Cristo, comumente é a própria igreja institucional quem mais afasta as pessoas dele.

Entretanto, como o texto nos mostra, é Jesus quem nos chama. Glória a Deus por isso! Nossa salvação depende dele e não dos esforços humanos. Isso nos faz lembrar do quanto somos incapazes de obter a salvação pelos nossos méritos. É Deus que nos concede de graça a salvação através dos méritos de Cristo.

E Isso deve gerar em nós um sentimento de profunda gratidão a Deus por ter graciosamente nos salvado através de Cristo que parou, olhou para cada um de nós, morreu por cada um de nós e nos chamou eficazmente para a salvação.

Por fim, a terceira atitude de Bartimeu que tem muito a ver conosco, é que ele passou a seguir a Jesus. É interessante que o destaque nesse ponto da história está para a fé de Bartimeu: A tua fé te salvou”.

A fé cristã não se baseia em sentimentos, emoções ou bênçãos terrenas. A fé pode até gerar estas coisas, mas não é alicerçada nelas. A fé genuína é alicerçada na verdade.

Para Jesus o mais importante nesse encontro não era apenas curar um cego. Isso era o óbvio. O mais importante é que aquele cego antes de tudo creu em Jesus como o messias, o Filho de Davi, e, portanto, como aquele que poderia lhe salvar e em quem estava a esperança, a luz que ele não enxergava.

O cristianismo autêntico não é aquele que visa as bênçãos que Deus pode nos proporcionar. A fé que visa obter bênçãos como sua plena satisfação é hedonista, passageira e interesseira. Bartimeu ao contrário, não ficou querendo apenas as bênçãos terrenas, antes desejou seguir a Jesus e de fato passou a ser seu seguidor a partir desse encontro.

Assim deve também ocorrer conosco. Não devemos nos relacionar com Deus segundo a religião da pós-modernidade que é regida por sentimentos egoístas e interesseiros. Não devemos nos achegar a Deus interessados no que Ele nos pode proporcionar, mas devemos sim ser plenamente satisfeitos nele pelo que Ele é! Quando somos plenamente satisfeitos em Deus, tudo muda à nossa frente. O nosso horizonte ganha vida, a beleza e as cores da vida se tornam perceptíveis e ainda que venham nuvens densas veremos que com elas Deus nos traz sempre um belo arco-íris!

Bartimeu foi curado porque Jesus assim o quis. Jesus poderia não ter feito isso. Mais importante do que tudo isso foi a confissão de fé de Bartimeu e a evidência de seguir a Cristo. Deus nos salvou para vivermos em comunhão com Ele e para sermos seus seguidores, andando em novidade de vida para a Sua glória.

A maior evidência de um verdadeiro encontro com Jesus, é que a pessoa passa a segui-lo por toda a sua vida, e foi o que aconteceu com o cego Bartimeu. Ele não queria apenas um milagre, ele queria antes disso conhecer a Jesus.


Que reconheçamos que Jesus é o único salvador e que o evangelho é a única verdade. Que não nos deixemos levar pelos apelos do mundo nem levemos nossas vidas segundo os seus padrões. E que principalmente vivamos para Deus como seus seguidores, verdadeiros discípulos que só encontram satisfação e sentido em viver em comunhão com o Pai, seguindo os passos do Filho e sendo guiados pelo Santo Espírito.

André Bronzeado.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

O Espírito Santo no Antigo Testamento

Antes da paixão de Jesus, ele prometeu que o Pai enviaria a seus discípulos outro Consolador ou Parácleto (gr. Parakletos, que significa o que dá auxílio). Este é um ajudador, conselheiro, fortalecedor, encorajador, aliado e advogado. Segundo Packer[1], a expressão outro indica que Jesus foi o primeiro Parácleto e está agora prometendo o segundo, um substituto, que após a sua partida continuará o ensino e o testemunho que ele havia iniciado.
O ministério do Parácleto é, por sua própria natureza, um ministério relacional e pessoal. O antigo testamento embora tenha dito muito sobre a atividade do Espírito Santo na Criação, na revelação, na capacitação para o serviço e na renovação interior, por outro lado não deixa claro que o Espírito Santo é uma pessoa divina distinta, ficando esta verdade mais límpida no Novo Testamento quando, na manhã de Pentecostes, o ministério do Espírito Santo passa a se mostrar de forma plena.
De fato, como comenta Millard Erickson, “a obra do Espírito Santo é de especial interesse para os cristãos, pois é particularmente por seu trabalho que Deus se envolve de forma pessoal e atua na vida do crente”[2]. O fato é que, comumente é difícil identificar o Espírito Santo dentro do Antigo Testamento, uma vez que este reflete os primeiros estágios da revelação progressiva. O termo ‘Espírito Santo’ é raramente empregado nele que traz normalmente a expressão “Espírito de Deus” que por sua vez não evidencia a existência de uma pessoa distinta.

A obra do Espírito Santo no Antigo Testamento

            Há várias áreas importantes de atuação do Espírito Santo no Antigo Testamento, doravante denominado AT no presente estudo. A obra contínua de Deus na criação á atribuída ao Espírito Santo, a transmissão das profecias e da Escritura, a transmissão de certas habilidades necessárias para várias tarefas e até na administração, como ocorreu com José quando o mesmo foi elogiado por Faraó que reconheceu a presença do Espírito de Deus na vida de José (Gn. 41:38).
           
Segundo Donald Guthrie:

O papel exercido pelo Espírito Santo na ordem criada é focalizado, particularmente, na narrativa da criação, na qual o mover do Espírito de Deus produziu a ordem a partir do caos (Gn. 1:2). Como a mesma palavra (rûah) é usada tanto para “Espírito” quanto para “vento”, a ideia comunica o poderoso, quase violento, movimento do Espírito. A continuação do papel desempenhado pelo Espírito como a fonte da vida humana é repetida em Gênesis 6:3 (“Meu espírito agirá sempre no homem”), e um pensamento semelhante é expresso em Jó 27:3 (“enquanto em mim estiver a minha vida, e o sopro [rûah] de Deus nos teus narizes”). Em duas outras passagens de Jó, alega-se que o sopro do Todo-Poderoso está no homem (Jó 32.8;33.4). Há uma clara conexão entre o espírito do homem e o Espírito de Deus, mas a ideia predominante é que a própria vida humana é atribuída a Deus. Não somente isso, mas a atividade continuada do Espírito nos cuidados providenciais de Deus com as pessoas também é refletida no Salmo 104.29,30 e, em relação à criação, em Isaías 40.7. Em outras palavras, há fortes fundamentos para afirmar que, no AT, a atividade de Deus no mundo das coisas e dos homens é geralmente mediada pelo Espírito de Deus. Esse aspecto dinâmico do Espírito é inevitável em nossa abordagem à evidência bíblica e deve dar cor à nossa compreensão da evidência do NT[3].

É inegável que um aspecto essencial do Espírito Santo no AT no que tange aos homens é a sua capacitação com poderes especiais, intelectuais, artísticos, dentre outros. No período dos juízes, por exemplo, a atividade do Espírito Santo na vida dos juízes lhe conferiam esse ofício como um dom carismático que os equipava para cumprir sua missão.
Quando Saul se tornou rei, ele foi possuído pelo Espírito (1 Sm. 11.6). A extensão de seu erro foi representada pelo afastamento do Espírito Santo dele. Nesse ponto, Saul não poderia mais cumprir a sua missão real de forma adequada. O Espírito de Deus veio poderosamente sobre o sucessor de Saul, a saber, Davi, quando Samuel o ungiu (1 Sm. 16.13). É mais um exemplo no AT de que a capacidade de liderança no caso é um dom carismático conferido pelo Espírito Santo.
No ofício profético a obra do Espírito Santo se mostra particularmente relevante. Ezequiel, Miquéias, Zacarias e os demais profetas eram conscientes que o Espírito de Deus os enchia lhes dando as palavras do Senhor. Há, de fato, uma relação estreita entre a Palavra e o Espírito no pensamento do AT. Os pronunciamento do Senhor a respeito do destino do seu povo podem ser considerados como mensagens do Espírito.
Comentando sobre a atividade redentiva do Espírito Santo no AT, Donald Guthrie afirma que “há uma concepção da atividade redentiva do Espírito que é de especial importância como um prelúdio para o testemunho do NT, e ela está relacionada com o Messias prometido[4].
Como dito, é mais particularmente nos profetas que ocorre a atividade individual do Espírito, não tanto em atos de poder, mas no campo da comunicação. No entanto, os próprios profetas também visualizaram o derramamento do Espírito de um modo corporativo, como por exemplo, em Ezequiel 37, na visão do vale de ossos secos. A mensagem ali contida é que o Senhor  fará reviver o seu povo através da eficácia da palavra profética (v.  4 ) e com a força vivificante do seu espírito (v.  5 ). Vejamos que os ossos secos que representam o desalento e a desesperança dos israelitas no exílio, ganham vida por meio da atividade do Espírito de Deus, em virtude do que uma multidão extremamente numerosa apareceu, representando simbolicamente, de fato, toda a casa de Israel vivificada. Nesse caso, a atividade do Espírito é descrita em termos do sopro de Deus (rûah).
Em relação às variadas manifestações do Espírito Santo no AT, Donald Guthrie comenta:

Diante da ampla variedade de maneiras nas quais o Espírito operou no AT, não é surpreendente que uma amplitude semelhante da atividade do Espírito seja encontrada no NT. Surge a questão, contudo, se a concepção neotestamentária do Espírito é um fenômeno totalmente novo ou se pode ser considerada como uma continuação e um desenvolvimento da concepção veterotestamentária[5].

Uma observação interessante sobre o tema é o que Millard Erickson[6] chama a atenção no sentido que o Espírito Santo não é apenas visto em incidentes dramáticos como nos líderes nacionais e heróis de guerras, antes, porém, ele estava intrinsecamente ligado à vida espiritual do povo de Israel. Nesse sentido ele é mencionado como o “bom Espírito”.
O AT retrata o Espírito Santo produzindo as qualidades morais e espirituais de santidade e bondade na pessoa a quem chega ou em quem habita. É de se notar, por oportuno, que a embora em alguns casos essa atuação interna do Espírito Santo pareça permanente, em outros casos como no Juízes, sua presença parece intermitente e atrelada a uma atividade ou a um ministério específico que deve ser exercido.
No testemunho do AT acerca do Espírito Santo, há o anuncio de um tempo em que o seu ministério será mais completo. Parte disso se relaciona com a vinda do Messias sobre quem o Espírito deve repousar. É interessante como Jesus cita os versículos iniciais do capítulo 61 do profeta Isaías e indica que eles estão sendo cumpridos em sua pessoa. A promessa de uma atuação corporativa e plena se dá em Joel 2.28,29, citada por Pedro como embasamento de cumprimento no dia de Pentecostes.
Sobre o assunto, preleciona Abraham Kuyper nos seguintes termos:

No começo nós descobrimos somente uma manifestação 'exterior' de certos dons. Para Sansão Ele concede grande força física. Aoliabe e Bezaleel são dotados com talento artístico para construir o tabernáculo. Josué é enriquecido com gênio militar. Estas operações não tocaram o centro da alma, e não eram salvadoras, mas meramente externas. Elas tornam-se mais duradouras quando assumem um caráter oficial como em Saul; embora nele encontremos a melhor evidência do fato de que elas são somente externas e temporais. Assumem um caráter mais elevado quando recebem o selo profético; embora o exemplo dos balsameiros (II Samuel 5:23-25; I Crônicas 14:13-15) nos mostra que mesmo assim elas não penetram até o centro da alma, mas afetam só afetam o homem exteriormente.Mas no Antigo Testamento também houve operação interna em crentes. Israelitas creram e foram salvos. Assim é que eles devem ter recebido graça salvadora. E desde que a existência da graça salvadora está fora de questão se não houver um operar interno do Espírito Santo, segue-se que Ele foi o Operador da fé em Abraão, tanto quanto em nós mesmos.A diferença entre as duas formas de operação é aparente. Uma pessoa que tenha sido trabalhada externamente pode enriquecer-se de dons e talentos exteriores, enquanto que espiritualmente ela permanece tão pobre como nunca. Ou, havendo recebido os dons interiores de regeneração, ela pode estar privada de cada dom e talento que adorna o homem de forma exterior[7].

            Semelhantemente, Wayne Grudem critica a restrição que se costuma fazer em relação à atuação do Espírito Santo no AT nos seguintes termos:

Antes de encerrar a discussão sobre a capacitação pelo Espírito Santo no Antigo Testamento, devemos observar que às vezes se diz que não havia nenhuma obra do Espírito Santo dentro das pessoas no Antigo Testamento. Essa ideia tem sido inferida principalmente das palavras de Jesus aos discípulos em João 14.17: “... ele habita convosco e estará em vós”. Mas não devemos concluir desse versículo que não havia nenhuma obra do Espírito Santo no interior das pessoas antes do Pentecostes. Embora o Antigo Testamento não fale com frequência de pessoas que tinham dentro de si o Espírito Santo ou que dele tinham plenitude, existem uns poucos exemplos:  Josué é descrito como homem que tem o Espírito (Nm 27.18; Dt 34.9), assim como Ezequiel (Ez. 2.2;3.24), Daniel (Dn 4.8-9, 18; 5.11) e Miquéias (Mq 3.8)[8].

O fato é que, o Espírito Santo no AT muitas vezes capacitou pessoas para serviço especial. Ele também protegeu o povo e capacitou-o para vencer seus inimigos, como no êxodo e, mais tarde, no retorno do exílio, protegendo e guardando o povo do medo (Ag. 2.5). Por fim, o AT predisse o tempo em que o Espírito Santo ungiria um Messias-Servo em grande plenitude e poder (Is. 11.1-3).

Conclusão

Como visto, o AT revela muito sobre a atividade do Espírito Santo na criação, na revelação, na concessão de poder e na renovação interior. Coube ao Novo Testamento revelar claramente o Espírito como uma distinta Pessoa da divindade, coigual ao Pai e ao Filho. O Espírito fala, ensina, testemunha, perscruta e intercede. Todos esses atos são próprios de uma pessoa. O Espírito dá ao povo de Deus aquilo que esse povo precisa para servir ao Senhor (1 Co 12.4-11). O pleno ministério do Espírito se deu a partir do Pentecostes em cumprimento de uma promessa feita no AT e como marca da era final da história do mundo.



[1] PACKER, James innell, Teologia consisa – 2.ed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 129.
[2] ERICKSON, Millard J., Introdução à teologia sistemática – São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 351.
[3] GUTHRIE, Donald, Teologia do novo testamento – São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 515.
[4] Idem, p. 517.
[5] Idem, nota 3, p. 518.
[6] Op. Cit., nota 2.
[7] Internet: Disponível em http://www.monergismo.com/livros2/kuyper/whs/010.htm, acesso em 19/06/2012.
[8] GRUDEM, Wayne A., Teologia sistemática – São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 533.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Cristãos, homossexuais e seus extremos


Evito o máximo entrar em acirrados debates na internet em torno de assuntos polêmicos. Pessoalmente não gosto da acidez de muitos debates comuns nas redes sociais nos nossos dias. Ao mesmo tempo, sou radical na defesa da liberdade de opinião e de expressão e, por isso, mais ainda não costumo disputar argumentos em postagens nos perfis de quem quer que seja nas redes sociais, afinal o perfil é “nosso” e nós postamos o que consideramos conveniente.

Por outro lado, na defesa dessa liberdade, publico no meu perfil nas redes sociais e no meu Blog aquilo que penso no exercício responsável da minha liberdade de opinião e expressão. Nessa atividade sou bem consciente que o meu direito de me expressar inclui o meu dever de respeitar a opinião alheia. Esta tem sido a minha postura e etiqueta para os mais diversos ambientes, inclusive, na internet, pois creio que o respeito é a pavimentação de um debate de alto nível.

O fato é que, o acirramento entre homossexuais e cristãos nos últimos tempos tem ultrapassado em muito a barreira do respeito nas redes sociais. Não consigo nem entender direito o porquê de tantos gritos soltos de ambos os lados. Não consigo – por mais que tente – dar razão a um ou outro grupo diante dos excessos dos mais radicais de ambos os lados consubstanciados nas mais diversas formas de provocação.

Conheço vários homossexuais, alguns que são uma vergonha, outros que são até exemplos em muitas áreas. Eu os respeito por serem humanos como eu sou.  Admito até que – humanamente falando – eles são “livres” para serem homossexuais.  Não concordo, porém, com o uso da tal liberdade quando travestida de libertinagem para afrontar a outros que são – humanamente e espiritualmente falando – LIVRES para também serem o que quiserem, inclusive, cristãos!

Nessa discussão toda, o nosso país não pode continuar servindo de palco para insipientes ditaduras antagônicas. Por um lado, não se pode admitir que um grupo de pessoas que assumem posturas homossexuais – por opção, por educação ou por traumas na gênese de sua personalidade – queira impor o mimo de uma superproteção legal em detrimento aos direitos mais fundamentais da coletividade; nem tampouco por outro lado se pode admitir em um estado laico como o nosso - onde é possível inclusive não seguir nenhuma religião - a supremacia de uma religião que, porque é dominante em número (quando unida), parece querer se confundir com o Estado e esmagar direitos também fundamentais de uma minoria.

Outro dia, ao assistir um vídeo postado em meio a esta guerra no Facebook, considerei uma fala muito equilibrada do estilista e deputado Clodovil (que inclusive era gay) ao afirmar que era inútil e sem sentido falar-se em um “orgulho gay”, afinal, “o que é isso!?” – questionou. Como ele mesmo disse naquela ocasião, melhor seria se orgulhar de quem você é, de que tipo de pessoa você é e de que diferença você faz para melhorar a sociedade do que orgulhar-se por simplesmente ser gay. Clodovil apontou para o ser humano que está por trás e ao mesmo tempo bem acima desse comportamento.

O ponto de reflexão no qual quero chegar é que, do ponto de vista da sociedade, a liberdade de alguém assumir um comportamento homossexual, de unir-se a alguém e chamar essa união de casamento ou de família, não me retira o direito e a liberdade de dizer que para mim a verdadeira família é bem diferente do que hoje se conhece como “família não-tradicional” ou “novos tipos de família” que – diga-se de passagem - considero um erro abominável.

Tenho o direito de defender a família como uma criação de Deus e não de homens. Afinal, Ele a inventou, Ele a projetou, Ele dividiu funções dentro dela e é Ele quem perfeitamente sela a união de um homem com uma mulher e faz dessa união a base de uma família de verdade. É nisso que acredito, é isso que curto, é esta verdade que compartilho e mais do que isso... é isso que vivo. Esta é a minha visão de família como de fato Deus a projetou.

É Deus, sem dúvidas, a maior autoridade para falar em família, afinal, foi Ele quem a criou. Deus fez do homem a mulher, ou seja, criou do homem um ser semelhante, porém, ao mesmo tempo diferente para que de fato faça sentido uma união legítima de dois seres que se completam, dois indivíduos que ao mesmo tempo que são semelhantes, são também diferentes. Não se deve, portanto, chamar outro tipo de união diferente dessa de família, assim como não se pode dizer que existe um casal ou um casamento se as partes  não forem um homem e uma mulher.  

Em meio a excessos e gritos de ambos os lados dessa “guerra” protagonizada não por todos os homossexuais e muito menos ainda por parte dos cristãos, desejo baixar o volume desses bombardeios para quebrar o silêncio apenas com a lembrança de algo extremamente simples na vida em sociedade regida também por um ordenamento jurídico: somos humanos, somos cidadãos, temos direitos, temos deveres, somos livres e, portanto, temos direito a expressarmos livremente nossas opiniões e ainda de vivermos de forma coerente com aquilo que acreditamos.

Os homossexuais têm – como cidadãos - o direito de o serem e de agirem em sua afetividade como entendem... devendo, porém, considerar que nessa guerra pelos “direitos” não devem esquecer dos seus “deveres” para com os outros. Quem quer respeito, respeite!

Ao mesmo tempo, desejo sinceramente que a igreja cristã, orientada pelo Espírito Santo, seja de fato igreja do Deus vivo! Que sejamos uma igreja que saiba tratar todos aqueles que não conhecem a graça de Deus com respeito, acolhimento e amor, apresentando a mensagem salvadora do Evangelho com intrepidez e vigor, mas ao mesmo tempo com a ternura e a gratidão características de indivíduos que reconhecem o quanto eram também pecadores perdidos antes de serem alcançados de forma imerecida pela graça de Deus.


"... porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus"

André G. Bronzeado