domingo, 30 de junho de 2013

O cego Bartimeu que há em mim

E foram para Jericó. Quando ele saía de Jericó, juntamente com os discípulos e numerosa multidão, Bartimeu, cego mendigo, filho de Timeu, estava assentado à beira do caminho e, ouvindo que era Jesus, o Nazareno, pôs-se a clamar: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!   E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele cada vez gritava mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!  Parou Jesus e disse: Chamai-o. Chamaram, então, o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, ele te chama.  Lançando de si a capa, levantou-se de um salto e foi ter com Jesus.  Perguntou-lhe Jesus: Que queres que eu te faça? Respondeu o cego: Mestre, que eu torne a ver.  Então, Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E imediatamente tornou a ver e seguia a Jesus estrada fora. (Marcos 10:46-52)

Este relato bíblico é por nós bastante conhecido. O que me chama atenção ao debruçar-me sobre este escrito encravado no Evangelho de S. Marcos é que consigo identificar um cego Bartimeu dentro de mim. Isso mesmo! Dentro de cada um de nós que, sem qualquer merecimento e sem termos a menor capacidade, fomos alcançados pela graça salvadora de Deus através do Seu Filho, o nosso Senhor Jesus Cristo.

Observando o contexto, Jesus estava a caminho de Jerusalém, o local aonde iriam se cumprir todas as profecias proferidas pelos profetas sobre o Messias no Antigo Testamento. Esses eram os últimos momentos de Jesus antes da sua crucificação.  Podemos dizer que estes versos que citamos acima são como um hífen, marcando uma ligação de dois momentos da vida de Jesus, o seu ministério e a sua morte.

Encontramos nessa história três posturas do cego Bartimeu que, intencionalmente ou não, muito se parecem com as nossas posturas, sobretudo no que tange à nossa comum salvação, de modo que, olhando para nossa própria experiência, podemos descobrir o cego Bartimeu que há em nós e o quanto foi sublime o nosso encontro com Cristo.

A primeira postura que nos chama a atenção nesse encontro é que Bartimeu reconheceu Jesus Cristo como sendo o Salvador. É importante registrar que no contexto em que vivemos - uma sociedade pós-moderna - ter uma verdade absoluta é sinônimo de algo absurdo, de intolerância, de falta de intelecto. 

Atualmente as pessoas criam suas próprias verdades, constroem sua própria realidade. Afirmar que Jesus Cristo é o salvador é algo essencial, porém um grande desafio em nossos dias. Ele é o Caminho, a verdade e a vida.

Bartimeu era cego, vivia na escuridão de uma enfermidade que lhe impedia não apenas de ver a vida, mas de viver. Bartimeu apenas sobrevivia. Sem esperanças, na beira de um caminho, sozinho, tinha as janelas fechadas ao horizonte, tinha a escuridão como paisagem de sua existência.

Aquele homem, porém, ouviu falar acerca de Jesus e reconheceu que nele estava a salvação, por isso exclamou: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim”. Aqui há duas questões importantes. Em primeiro lugar, ao chamar Jesus de “Filho de Davi” – expressão até então rara – Bartimeu apontou para Jesus Cristo como sendo o verdadeiro Messias, o Cristo. Em segundo lugar Bartimeu clama por compaixão. Ora, quem pede compaixão é porque reconhece sua própria condição. Bartimeu reconhece sua própria condição de pecado e quem verdadeiramente pode salvá-lo.

Assim também somos nós. Nascemos pecadores, crescemos presos à escuridão, sem vida em verdade, sem esperança. Quando ouvimos a Palavra de Deus e somos tocados pelo Senhor ficamos como aquele cego. Queremos conhecer a Jesus! Queremos ser tocados por Ele. Queremos ser acolhidos e nos entregarmos a Ele como a nossa única esperança na escura beira da vereda da vida.

A segunda marcante postura de Bartimeu foi não dar ouvidos aos conselhos do mundo ao redor. O texto mostra que não poucas, mas muitas pessoas repreendiam e colocavam obstáculos para que Bartimeu chegasse até Jesus. Porém Jesus parou e chamou a Bartimeu e então todos os que antes atrapalhavam tiveram que leva-lo até o Mestre.

Assim acontece conosco. A multidão grita aos nossos ouvidos o tempo todo nos ensinando os padrões do sistema desse mundo como sendo os melhores para levarmos as nossas vidas. O mundo tenta obstaculizar toda atitude que nos faz olhar para Deus. A multidão sempre quer nos aprisionar nos valores e padrões do mundo.

O mundo odeia a Cristo. Assim como Bartimeu, não devemos nos deixar levar pelo que o mundo quer. O sistema de valores desse mundo só nos leva a amar aquilo que Deus odeia, a se alegrar com aquilo que o entristece e a reverenciar aquilo que Ele despreza. Bartimeu não podia sequer ver, mas tinha foco, tinha objetivo e este era olhar para Cristo!

O fato de Jesus ter parado e chamado Bartimeu nos remete à verdade que a salvação não é resultado de um esforço nosso. É Deus quem nos salva! É ele quem nos chama e quando isto ocorre ninguém pode impedir, multidão nenhuma nos impedirá de experimentar a irresistível graça de Deus e o seu chamado eficaz.

É interessante também notar que aquele grupo de pessoas que colocava obstáculos entre Bartimeu e Jesus não representa apenas o mundo, antes pelo contrário, era formada pelos próprios seguidores de Cristo! Infelizmente essa realidade é muito atual, mas ao mesmo tempo fez parte da igreja cristã em todas as épocas, pois embora o papel da igreja seja conduzir as pessoas a Cristo, comumente é a própria igreja institucional quem mais afasta as pessoas dele.

Entretanto, como o texto nos mostra, é Jesus quem nos chama. Glória a Deus por isso! Nossa salvação depende dele e não dos esforços humanos. Isso nos faz lembrar do quanto somos incapazes de obter a salvação pelos nossos méritos. É Deus que nos concede de graça a salvação através dos méritos de Cristo.

E Isso deve gerar em nós um sentimento de profunda gratidão a Deus por ter graciosamente nos salvado através de Cristo que parou, olhou para cada um de nós, morreu por cada um de nós e nos chamou eficazmente para a salvação.

Por fim, a terceira atitude de Bartimeu que tem muito a ver conosco, é que ele passou a seguir a Jesus. É interessante que o destaque nesse ponto da história está para a fé de Bartimeu: A tua fé te salvou”.

A fé cristã não se baseia em sentimentos, emoções ou bênçãos terrenas. A fé pode até gerar estas coisas, mas não é alicerçada nelas. A fé genuína é alicerçada na verdade.

Para Jesus o mais importante nesse encontro não era apenas curar um cego. Isso era o óbvio. O mais importante é que aquele cego antes de tudo creu em Jesus como o messias, o Filho de Davi, e, portanto, como aquele que poderia lhe salvar e em quem estava a esperança, a luz que ele não enxergava.

O cristianismo autêntico não é aquele que visa as bênçãos que Deus pode nos proporcionar. A fé que visa obter bênçãos como sua plena satisfação é hedonista, passageira e interesseira. Bartimeu ao contrário, não ficou querendo apenas as bênçãos terrenas, antes desejou seguir a Jesus e de fato passou a ser seu seguidor a partir desse encontro.

Assim deve também ocorrer conosco. Não devemos nos relacionar com Deus segundo a religião da pós-modernidade que é regida por sentimentos egoístas e interesseiros. Não devemos nos achegar a Deus interessados no que Ele nos pode proporcionar, mas devemos sim ser plenamente satisfeitos nele pelo que Ele é! Quando somos plenamente satisfeitos em Deus, tudo muda à nossa frente. O nosso horizonte ganha vida, a beleza e as cores da vida se tornam perceptíveis e ainda que venham nuvens densas veremos que com elas Deus nos traz sempre um belo arco-íris!

Bartimeu foi curado porque Jesus assim o quis. Jesus poderia não ter feito isso. Mais importante do que tudo isso foi a confissão de fé de Bartimeu e a evidência de seguir a Cristo. Deus nos salvou para vivermos em comunhão com Ele e para sermos seus seguidores, andando em novidade de vida para a Sua glória.

A maior evidência de um verdadeiro encontro com Jesus, é que a pessoa passa a segui-lo por toda a sua vida, e foi o que aconteceu com o cego Bartimeu. Ele não queria apenas um milagre, ele queria antes disso conhecer a Jesus.


Que reconheçamos que Jesus é o único salvador e que o evangelho é a única verdade. Que não nos deixemos levar pelos apelos do mundo nem levemos nossas vidas segundo os seus padrões. E que principalmente vivamos para Deus como seus seguidores, verdadeiros discípulos que só encontram satisfação e sentido em viver em comunhão com o Pai, seguindo os passos do Filho e sendo guiados pelo Santo Espírito.

André Bronzeado.

2 comentários:

ESCOLA DE PREGADORES disse...

André, belo texto! Deus continue te usando. Abraço

André Bronzeado disse...

Muito obrigado pastor Leonardo!