quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Um apagão espiritual


“Que sejas meu universo
Que sejas tudo o que sinto e o que penso
Que de manhã seja o primeiro pensamento
E a luz em minha janela”
(Meu Universo, PG)

Nessa quarta-feira (28) o nordeste brasileiro foi afetado por um apagão que interrompeu o fornecimento de energia elétrica na região por algumas horas. Na Paraíba, o fornecimento de energia foi prejudicado por volta das 16h00 e só retornou no início da noite, gerando inúmeros transtornos nas principais cidades, como João Pessoa e Campina Grande.

No momento do blackout eu estava trabalhando a todo vapor no escritório e custei a acreditar que o problema fosse tão sério a ponto de atingir toda a região nordeste. Imaginei ser apenas mais uma queda de energia que logo seria solucionada, como sempre ocorre.

Porém, não demorou muito para que eu sofresse com algumas consequências da falta de energia elétrica. Observei ansioso o tempo de autonomia da bateria do meu notebook, fiz o mesmo com o meu smartphone, a escuridão e o calor tomaram conta da minha sala, já não podia imprimir os meus trabalhos, a rede wireless não mais funcionava e o som incômodo de dezenas de buzinas vindas de um trânsito caótico lá fora perturbava os meus ouvidos. Tudo isso em apenas 10 minutos sem energia elétrica.

De fato, em meio a euforia me pus a refletir e observar os mais diversos transtornos que uma simples falta de energia elétrica pode causar em nossa sociedade. São serviços em geral suspensos tais como telefonia, internet, dentre outros; o trânsito se torna insuportável devido ao não funcionamento dos semáforos; os doentes nos hospitais dependendo de geradores; pessoas presas em elevadores; enfim, observamos uma série de desconfortos causados pelo impacto de não dispormos de algo que se tornou tão essencial para a humanidade após o final do século XIX, quando a energia elétrica passou a ser fornecida para o uso industrial e residencial, transformando os hábitos das sociedades a partir de então.

Atualmente, a indústria, os transportes, o aquecimento, a iluminação, as comunicações e a computação dependem do fornecimento da energia elétrica, de modo que não consigo imaginar como seriam as nossas vidas sem este recurso a disposição a um click.

Tal constatação, porém, levou-me a refletir sobre algo mais profundo e infinitamente mais essencial para a nossa existência: Como não suportamos ficar alguns minutos sem algo que julgamos ser “essencial” para as nossas vidas e por outro lado somos capazes de nos esquecermos de Deus com tanta facilidade e por tanto tempo mesmo o considerando “o mais essencial”  no nosso dia-a-dia?

É impressionante como ficamos tão incomodados quando nos privamos de internet, de energia elétrica, de um computador, das redes sociais e etc., mas não nos sentimos tão incomodados assim quando no nosso cotidiano não separamos tempo para as disciplinas espirituais como oração, leitura bíblica, participação nos cultos, etc. A falta dessas disciplinas espirituais - que são meios de graça - muitas vezes parece não nos fazer a menor falta!

É comum procurarmos a Deus quando estamos desesperados para resolvermos os problemas com os quais nos deparamos. Deus se torna apenas uma espécie de pronto-socorro – um 192 - que só é lembrado quando temos interesses em jogo.

Enquanto nos satisfazemos com tudo o que nos traz conforto e quando está tudo bem, nós procuramos nos preencher de tudo o que nos traz satisfação e prazer, porém comumente nos esquecemos de Deus no nosso dia-a-dia. Encontramos tempo para as mais diversas atividades, mas não encontramos tempo para Deus.

Ao colocarmos tantas coisas acessórias como sendo indispensáveis e essenciais em nossas vidas, acabamos por suprimir o que é verdadeiramente vital e consequentemente ofuscamos a luz do que é insubstituível, Aquele que não se apaga, Aquele que não dorme, Aquele que não sofre um blackout mesmo quando negligentemente nos esquecemos de olhar para Sua luz.

O mais importante é que, ao refletirmos sobre isso, não equiparemos os mais diversos meios de satisfação que encontramos ao nosso dispor com Aquele que de fato é o único que pode nos dar plena satisfação e prazer.

Independente se nos lembramos ou não, a presença de Deus é insubstituível e indispensável para a nossa existência. Mesmo sem percebermos, Deus cuida de nós. Ele é soberano e sustenta todas as coisas com a Sua mão. Não há um átomo no universo que não esteja debaixo de sua soberania. As Suas misericórdias se renovam a cada manhã, Ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. O nosso respirar depende dele, nosso alimento e a nossa existência só são possíveis por Sua vontade.

Daí porque não há sentido em nos satisfazermos com o acessório e nos esquecermos do principal. Em Deus devemos encontrar a plena satisfação e nosso maior prazer. Ele deve ser o mais essencial em nossas vidas, a razão do nosso viver.

Como ensina o Breve Catecismo de Westminster: O fim principal do homem é glorificar a Deus, e alegrar-se nele para sempre. Isso de fato dá sentido à nossa existência. Deus não é apenas essencial, é Ele quem nos proporciona a existência e a verdadeira satisfação.

Que verdadeiramente encontremos a plena satisfação de nossas vidas em Deus. Que Ele seja para nós, não apenas teoricamente, mas no mais profundo do nosso ser, o que há de mais essencial. Que Ele seja o nosso universo, como diz a bela canção. Que a Sua presença e o Seu poder sejam para nós como o alimento sem o qual não podemos viver. E que essa corrente não sofra nenhum blackout, mas que estejamos sempre ligados no Senhor!

André Bronzeado.


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