Recentemente estive participando de mais uma jornada de
oração e jejum durante quarenta dias. Esse tipo de programação sempre me
desafia e me empolga a buscar ao Senhor em oração e a meditar ainda mais em Sua
Palavra.
Comumente em atividades desse tipo a prática do jejum é proposta
aos participantes e esta consiste em não se
alimentar por um certo tempo de forma voluntária. Não desejo aqui entrar no mérito
daqueles que estendem a prática do jejum a qualquer coisa ou hábito que tenha de alguma maneira se
tornado 'indispensável' em suas vidas como, por exemplo, abster-se de acessar a internet ou de assistir TV por um
período.
É também comum vermos que muitos
apelos para que pratiquemos o jejum vêm acompanhados da ideia de que a oração somada
ao jejum tem uma espécie de “plus”, ou seja, torna-se mais
forte. Com isso, somos tentados a alimentarmos a falsa ideia de que o jejum é um tipo de “sacrifício” ou uma "autoflagelação" capaz de nos purificar e ao mesmo tempo de mover o coração de Deus de modo a atender às nossas
orações.
Quem nunca
ouviu um líder de uma comunidade conclamar os irmãos a jejuarem em função de
algum grande interesse? “Irmãos, esse assunto é sério, então precisaremos
jejuar para que Deus faça a obra!” “Amanhã vamos evangelizar, portanto, vamos
jejuar para que tudo dê certo e muitas pessoas se convertam!”
Biblicamente,
porém, o jejum nos é apresentado como uma disciplina espiritual e o seu
objetivo não é mudar o modo como Deus responde as nossas orações, muito menos tem a função de torná-las mais eficazes, mas sim de mudar a nós mesmos! O jejum não muda Deus ou o modo
pelo qual Ele nos vê. O jejum muda o nosso interior e isso repercute diretamente no
nosso relacionamento com Deus.
Quando
jejuamos, normalmente nos abstemos do que é mais básico, indispensável e
fundamental para a nossa existência, a saber, os alimentos. Ao fazermos isto,
estamos ensinando para nós mesmos que podemos viver sem atender aos nossos
desejos mais básicos e legítimos, podemos dizer não aos apelos de nossa carne,
podemos viver sem atender às nossas necessidades mais elementares, ou seja, dizemos
não ao nosso próprio “eu” porque de fato só encontramos a plena satisfação em
Deus e na Sua presença. É Deus o nosso alimento mais necessário e
indispensável, sem o qual não podemos viver.
O jejum nos ensina que dependemos de Deus para vivermos assim como um galho precisa estar
ligado à árvore para se manter vivo, por isso nada é mais indispensável do que
estarmos ligados a Ele. A pedagogia do jejum nos mostra que Deus é mais
indispensável do que tudo aquilo que imaginamos ser indispensável, é mais necessário
do que tudo aquilo que imaginamos ser necessário.
Sendo assim,
é o jejum uma disciplina espiritual e deve ser feito com
dedicação de tempo em oração. Não há sentido em jejuar apenas deixando de comer
sem sequer parar para orar, para ler a Palavra, meditar no que lemos e realmente nos alimentarmos da presença de
Deus.
Talvez os
que entendem o jejum como um “plus”
ou uma forma de “autoflagelação” ou “sacrifício” para tentar agradar a Deus e
obter uma resposta positiva às suas orações, podem estar interpretando
erroneamente a narrativa constante no Evangelho de Mateus 17:21, quando Jesus declara aos discípulos que
não conseguiram expulsar um demônio as seguintes palavras: “Mas
esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum”.
O texto em comento,
porém, não reforça tal ensino! Observando o contexto, é de se notar que um homem
trouxe o seu filho endemoninhado aos pés de Jesus dizendo que havia procurado
os seus discípulos, porém os mesmos não lhe puderam curar. Nesse ponto Jesus
exclama: “Ó geração incrédula e perversa!
Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui o menino”.
Logo em seguida Jesus repreendeu o demônio e o expulsou do menino.
Em ato
contínuo os discípulos preocupados perguntaram a Jesus o motivo que não puderam
expulsá-lo, ao que Jesus respondeu: “Por
causa da pequenez da vossa fé”. É interessante notar que a fé dos
discípulos não era pequena porque lhes faltava confiança ou não esperassem o
sucesso, mas porque a expectativa deles não era baseada em um relacionamento apropriado
com Deus.
Jesus não
lhes deu uma receita para terem uma oração mais forte ou uma dica para terem
respostas positivas em suas orações. Jesus tratou um problema de fé, de
relacionamento com Deus. Aqueles discípulos precisavam entender que eles veriam
a graça de Deus nos seus ministérios quando tivessem um relacionamento real com
Deus e isso é construído diariamente, de fé em fé através das disciplinas espirituais como a oração,
a leitura bíblica e o jejum.
O que Jesus estava ensinando àqueles
homens é que eles precisavam levar a sério a vida com Deus. Isto nos mostra o
quanto o jejum como disciplina espiritual visa mudar o nosso interior e o nosso
relacionamento com o Senhor. Os discípulos, assim como nós, precisavam viver
uma fé viva e verdadeira!
Sendo assim, que de fato pratiquemos o jejum não com a intenção de barganharmos com Deus a fim de conseguirmos algo que muito desejamos, antes pelo contrário, tendo a plena confiança na soberania de Deus e que nossas orações e jejuns não têm a finalidade de mudar os Seus desígnios, que desejemos ardentemente através do jejum, nos satisfazermos com a presença de Deus como prática prazerosa e transformadora, para assim alimentarmos verdadeiramente a nossa fé!
André G. Bronzeado
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