segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Espiritismo (2)

Em apenas cinco dias de exibição, o filme espírita “Nosso Lar” já estabeleceu um novo recorde de público na história do cinema brasileiro, superando a marca de 1 milhão de espectadores. Dirigido por Wagner de Assis, o filme superou o recordista anterior “Chico Xavier" que em oito dias já havia sido assistido por mais de 1 milhão de pessoas.

No mês de abril estive falando sobre o filme biográfico do famoso médium brasileiro Chico Xavier. Naquela oportunidade tratei de como surgiu o espiritismo e suas principais crenças, portanto, recomendo que meus leitores confiram o texto clicando no link “Espiritismo” da barra lateral desse Blog.
“Nosso Lar” conta a história de um médico que acorda no mundo espiritual após a sua morte. Desde a estreia na última sexta-feira (03 de setembro), mais de 1.007.500 pessoas já assistiram ao filme que conta com um elenco global (como sempre), dentre os quais Renato Prieto, Werner Schünemann, Clemente Viscaíno e ainda participações especiais de Othon Bastos, Ana Rosa e Paulo Goulart.
Nesta oportunidade, diante da repercussão do filme “Nosso Lar”, que está sendo exibido em 445 salas em todo o Brasil e que é baseado no best-seller homônimo de Francisco Cândido Xavier, o médium Chico Xavier, quero tratar apenas de duas questões no mínimo intrigantes encontradas na Bíblia Sagrada e defendidas por alguns espíritas como sendo bases bíblicas para suas doutrinas. A primeira questão é verificar se João Batista é a reencarnação de Elias; já a segunda questão é a consulta de Saul à médium de En-Dor.
Pois bem, vamos ao primeiro questionamento: João Batista era a reencarnação do Profeta Elias? Antes de respondermos a esta pergunta, é necessário fazermos uma observação nas seguintes passagens bíblicas:
“Os discípulos lhe perguntaram: ‘Então, por que os mestres da lei dizem que é necessário que Elias venha primeiro?’ Jesus respondeu: ‘De fato, Elias vem e restaurará todas as coisas. Mas eu lhes digo: Elias já veio, e eles não o reconheceram, mas fizeram com ele tudo o que quiseram. Da mesma forma o Filho do homem será maltratado por eles’. Então os discípulos entenderam que era de João Batista que ele tinha falado”. (Mateus 17:10-13).
“(...) E se vocês quiserem aceitar, este (João Batista) é o Elias que havia de vir”. (Mateus 11:14).
Agora vejamos a opinião de Allan Kardec acerca dessas passagens: “A noção de que João Batista era Elias e de que os profetas podiam reviver na terra, depara-se em muitos passos dos Evangelhos, especialmente nos acima citados. Se tal crença fosse um erro, Jesus não a deixaria de combater, como fez com muitas outras, mas, longe disso a sancionou com sua autoridade... ‘É ele mesmo o Elias, que havia de vir’. Aí não há nem figuras nem alegorias; é uma afirmação positiva”. (O Evangelho Segundo o Espiritismo).
Diante do exposto, percebemos que Allan Kardec faz uma interpretação literal dessas passagens para, propositadamente, escrever tais palavras na inútil tentativa de defender a teoria da reencarnação buscando argumentos onde os mesmos não existem.
É preciso consideramos um princípio básico de hermenêutica muito conhecido e que afirma que “a Bíblia interpreta-se a si mesma”. É interessante como tão bem se encaixa este princípio ao caso em tela, pois o próprio João Batista ao ser perguntado se era Elias, respondeu expressamente: “Não sou” (João 1:21). Acerca de João Batista, diz Lucas 1:17: “(...) E irá adiante do Senhor, no espírito e poder de Elias, para fazer voltar o coração dos pais a seus filhos e os desobedientes à sabedoria dos justos, para deixar um povo preparado para o Senhor”.
Esta passagem não quer dizer, em nenhuma hipótese, que João Batista era a reencarnação de Elias, mas que no seu ministério existiriam características parecidas com as do ministério de Elias, ou seja, o ministério de João se assemelharia com o de Elias e isto não implica em dizer que aquele é a reencarnação deste. Assim também, quando usamos o dito popular “tal pai, tal filho”, não queremos dizer com isso que o filho é a reencarnação do pai, mas que o filho apenas possui semelhanças com o pai.
Para fechar esta questão de uma vez por todas, é importante considerarmos os seguintes pontos:
a) Os judeus criam que João Batista poderia ser Elias ressuscitado, não reencarnado. (Lucas 9:7,8).
b) Se os judeus acreditassem que João era Elias reencarnado e não ressuscitado, não teriam em outra oportunidade admitido que Cristo fosse Elias ressuscitado. Ora, João Batista e Cristo, que viveram simultaneamente por cerca de trinta anos, não poderiam ser Elias ressuscitado ou reencarnado ao mesmo tempo!
c) Se reencarnação é o ato ou efeito de reencarnar, pluralidade de existências com um só espírito, é evidente que um vivo não pode ser reencarnação de alguém que nunca morreu. É claro que João Batista não era Elias, já que este não morreu, pois foi arrebatado vivo ao Céu (1 Reis 2:11).
d) Se João Batista fosse Elias, quem primeiro teria conhecimento disso teria sido ele mesmo e não os judeus ou muito menos os espíritas. Lembremo-nos que o próprio João Batista disse categoricamente que não era Elias (João 1:21).
Como eu não resisto nessas horas, tenho que fazer um arremate: Ora, se João Batista fosse Elias reencarnado, no momento da transfiguração de Jesus Cristo teriam aparecido Moisés e João Batista, e não Moisés e Elias (Mateus 17:3). Pense comigo: é lógico que nessa situação apareceria a reencarnação mais recente que, no caso, seria João Batista.
Mas ainda não acabou! Nosso amigo Saul (que podia ter ficado sem essa) nos deixou mais um problema para resolvermos. A segunda questão é: na consulta de Saul à médium de En-Dor houve uma verdadeira comunicação com Samuel?
O texto bíblico que trata desse episódio está encravado nas Sagradas Escrituras no Primeiro Livro de Samuel, capítulo 28. O texto mostra Saul consultando uma pitoniza de En-Dor, mulher conhecida por ter um espírito maligno de adivinhar (v. 7). Os espíritas afirmam que se Saul, sendo um rei escolhido por Deus, lançou mão dessa prática, também nós devemos fazer o mesmo, denotando que a mediunidade é uma prática aprovada por Deus.
Sugiro que você faça uma leitura do capítulo 28 de 1 Samuel. Quero fazer uso do comentário apologético contido na Bíblia Apologética de Estudo, produzida pelo Instituto Cristão de Pesquisas (bibliografia abaixo), que assim diz:
“Em desobediência a todas as ordens divinas contrárias à comunicação com os mortos, Saul, desesperado pelo fato de Deus não estar mais lhe respondendo, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas (v.6), procurou uma pitoniza (médium). Durante toda a sessão, apenas a mulher vê algo e dá uma descrição vaga e imprecisa dos traços do espírito que aparece e fala com ela, o que foi suficiente para iludir Saul, que pensou tratar-se de Samuel.
A seguir, algumas razões que demonstram fraude ou manifestação demoníaca naquela aparição:
1 – Saul perdera a graça de Deus (15.23), por isso o silêncio do Senhor para com ele (28.6). Havia, naquela ocasião, três maneiras de Deus se comunicar com os homens: por sonhos – revelação pessoal (Jó 33.15-17); por Urim e Tumim – revelação sacerdotal (Êx. 28.30); e por meio dos profetas – revelação inspirativa (Hb. 1).
2 – Não se pode entender que Samuel, um homem santo durante toda a vida, pudesse, depois de morto, prestar-se a obedecer à pitonisa – mulher abominável - , cometendo um pecado tão claramente proibido por Deus ( Êx. 22.11; Lv 20.27; Dt. 18.19-22; Is. 47.13).
3 – Não se pode conceber que Deus tenha proibido a feitiçaria e a consulta aos mortos e, depois, permitir que a feitiçaria trouxesse o espírito de Samuel (tg. 1.17).
4 – No texto estudado, a mulher diz: “Vejo deuses que sobem da terra”. Quem eram esses deuses? Só podiam ser demônios, passando-se por espíritos de luz ou adivinhadores (2Co. 11.13,14; Mc 5.9; Lc 8.30). O diabo pode transfigurar-se em anjo de luz (16.23; 2Co 11.13,14).
5 – Os mortos não se comunicam com os vivos (Lc. 16.19-31; Hb 9:27).
6 – O resultado dessa consulta foi trágico para Saul (1Cr 10.13). De acordo com Deuteronômio 18.20-22, as profecias devem ser julgadas. E essas do falso Samuel não resistem ao exame. São ambíguas, imprecisas e infundadas. Vejamos: Saul não foi entregue nas mãos dos filisteus (28.19), mas se matou (31.4), indo parar nas mãos dos homens de Jabes Gileade (31.11-13). Não morreram todos os seus filhos – “tu e teus filhos estareis” (v. 19) – como insinua a obscura profecia. Pelo menos três ficaram vivos: Is-Bosete (2.8-10), Armoni e Mefibosete (21.8). E apenas três morreram (31.6; 1Cr 10.2-6). As Escrituras declaram que as palavras de Samuel nunca caíram por terra (3.19).”
Como se vê, em nenhum momento a Bíblia recomenda a consulta aos mortos, nem endossa a mediunidade como prática aprovada por Deus, antes pelo contrário, considera tudo isso uma prática abominável aos olhos de Deus. Vejamos o que o Senhor Deus disse ao Seu povo através de Moisés:
“Quando entrarem na terra que o SENHOR, o seu Deus, lhes dá, não procurem imitar as coisas repugnantes que as nações de lá praticam. Não permitam que se ache alguém entre vocês que queime em sacrifício o seu filho ou sua filha; que pratique adivinhação, ou se dedique à magia, ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium, consulte os espíritos ou consulte os mortos. O SENHOR tem repugnância por quem pratica essas coisas, e é por causa dessas abominações que o SENHOR, o seu Deus, vai expulsar aquelas nações da presença de vocês. Permaneçam inculpáveis perante o SENHOR, o seu Deus. As nações que vocês vão expulsar dão ouvidos aos que praticam magia e adivinhação. Mas, a vocês, o SENHOR, o seu Deus, não permitiu tais práticas”. (Deuteronômio 18:9-14).
A Bíblia mostra de maneira límpida que Deus abomina a invocação dos mortos. Além disso, é importante esclarecermos que a proibição divina de se consultar os mortos, por si só, não prova que havia comunicação com eles; prova apenas que havia a consulta aos mortos, isto não implica em uma comunicação real. Na realidade, era uma tentativa de comunicação.
Na prática de tais consultas aos mortos, sempre existiram embustes, mistificações, mentiras, farsas e manifestações demoníacas. É o que acontece nas sessões espíritas, onde espíritos demoníacos e enganadores se manifestam, identificando-se como pessoas que já faleceram. Esses espíritos prestam serviço a Satanás, o pai da mentira e o mentiroso por excelência.
As Escrituras nos ensinam que os mortos não têm parte em nada do que se faz e acontece na terra devido ao estado no qual se encontram. “Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem; para eles não haverá mais recompensa, e já não se tem lembrança deles. Para eles o amor, o ódio e a inveja há muito desapareceram; nunca mais terão parte em nada do que acontece debaixo do sol” (Eclesiastes 9: 5,6). Diante dessas coisas, fica muito claro também que os mortos não podem ajudar os vivos. Leiamos a história do rico e Lázaro (Lucas 16) e teremos uma confirmação clara dessa verdade.
Só me resta mais uma vez dizer que o aumento visível do Espiritismo e de suas várias ramificações, o crescimento de várias outras seitas heréticas e da atividade demoníaca que observamos em nossos dias são sinais dos últimos tempos. A principal arma da Igreja para a refutação de doutrinas falsas é o estudo responsável da Palavra de Deus que nos capacita a defendermos a fé que de uma vez por todas foi dada aos santos.
Diante de tudo o que expus, é possível concluirmos que o Espiritismo é uma mistura de religião e filosofia do homem para o homem, incapaz de indicar o caminho certo da salvação da alma em Jesus Cristo, pois nem mesmo crê que Jesus é o caminho, a verdade e a vida.
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Referências:
Bíblia Apologética de Estudo, Jundiai: ICP, 2000.
OLIVEIRA, Raimundo Ferreira de, 1949 – Seitas e Heresias, um sinal dos tempos. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1987.
Imagem: www.yahoo.com.br