quarta-feira, 1 de novembro de 2017

500 Anos da Reforma Protestante



“Viverá aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus.” – Romanos 1:17 (NTLH)

Na manhã de 31 de outubro de 1517, o monge Martinho Lutero se dirigiu à porta da Catedral de Wittenberg na Alemanha e afixou um pergaminho que continha 95 teses, em sua maioria, relacionadas com a venda de indulgências praticada pela Igreja de sua época. Não muito tempo depois, este famoso protesto desencadeou vários acontecimentos que resultaram no movimento conhecido como Reforma Protestante, que logo se espalhou pelo norte e oeste da Europa.
É importante registrar que movimentos reformistas foram muito comuns dentro do cristianismo antes disso, na tentativa de evitar e corrigir desvios dos padrões bíblicos em matéria de fé e prática, sobretudo a partir do Século XII, em plena Idade Média. Cátaros, Valdenses, homens como João Wyclif, João Huss, Jerônimo Savanarola e tantos outros, empreenderam muitos esforços e perderam até a própria vida pelo simples fato de pregar o Evangelho na língua das pessoas de modo compreensível ou por defender a doutrina bíblica de salvação mediante a fé e não por méritos pessoais, cumprimento de ritos e compra de perdão de pecados.
No início século XVI a Idade Média sucumbia e a Renascença revelou um cenário favorável por meio de diversos fatores que contribuíram em alguma medida para que a Reforma na Igreja se tornasse possível. Fatores políticos representados pelo desgaste e escândalos na relação íntima entre Igreja e Estado; fatores intelectuais que trouxeram à tona o espírito secular, crítico e investigativo a enxergar além do horizonte daquilo que era ensinado como “verdade” e que na realidade era muitas vezes a mentira sob a proteção da conveniência institucional; o fator moral que desnudou a distância existente entre o discurso cristão e a prática imoral de suas lideranças à época; e, principalmente, o fator teológico-filosófico que abriu a todos o Livro que jamais deveria ter sido fechado, a saber, a Bíblia Sagrada. Esse conhecimento e as ideias reformadas fizeram uso da melhor tecnologia de comunicação da época, a engenhosa imprensa de Johannes Gutenberg, cujo primeiro livro publicado foi a própria Bíblia, conhecida como a “Bíblia de Gutenberg”.
Apesar das várias estratégias de pressão, Lutero permaneceu firme diante dos ataques que lhe dirigiam, tendo comparecido no dia 17 de abril de 1521 ante a Dieta do Concílio Supremo do Reno, e em resposta a um pedido para que se retratasse e renegasse o que havia escrito, após algumas considerações de suas razões, respondeu que não podia retratar-se, a não ser que fosse desaprovado pelas Escrituras e pela razão. Lutero terminou sua fala com estas palavras: "Aqui estou. Não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém."
A intenção de Lutero não era dividir, mas sim restaurar. As lideranças da época não foram capazes de entender isso ou mesmo não o quiseram. O resultado mais tarde foi o surgimento das igrejas protestantes e todas elas tinham a Bíblia Sagrada como fonte de autoridade final.
Em sua segunda fase, a Reforma ganhou relevo através do legado de João Calvino, o qual sistematizou e consolidou a teologia reformada, através das Institutas da Religião Cristã e comentários bíblicos, inspirando igrejas na França, Holanda, Escócia e Suíça a refutarem todas as práticas que não estavam de acordo com a Bíblia Sagrada. Além da Europa, estas igrejas também fizeram a fé reformada se espalhar pelo mundo, como os Pais Puritanos que colonizaram a América do Norte, além de missionários calvinistas enviados ao Brasil desde o século XVI, como também durante o domínio holandês (Séc. XVII) e posteriormente no surgimento das denominações (presbiterianos, congregacionais e batistas).
A causa teológica da Reforma Protestante está no anseio de retornar à fonte da fé cristã que é a Palavra de Deus. Nesse sentido, a máxima “Ecclesia Reformata et Semper Reformanda est”, isto é, “Igreja Reformada está Sempre se Reformando”, nos desafia hoje a olharmos para o legado da Reforma não apenas na perspectiva histórica. Somos desafiados como cristãos a uma reforma diária, rejeitando constantemente o erro e a heresia. Não se trata de adicionar novidades, mas sim conhecermos em camadas mais finas e profundas a verdade que liberta e que transforma!
Aqui estamos! – como disse Lutero. E não podemos fazer outra coisa! Precisamos hoje, mais do que nunca e com todos os instrumentos que temos, fazer valer os princípios dos "Cinco Sola", expressões latinas que resumem o pensamento da Reforma. É preciso reafirmarmos hoje:
• Sola Gratia: somente pela graça vivemos e somos salvos;
• Sola Fide: somente mediante a fé somos salvos e aceitos por Deus;
• Sola Scriptura: somente a Bíblia é autoridade em matéria de fé e prática;
• Solus Christus: somente Cristo é o caminho para a salvação;
• Soli Deo Gloria: Somente a Deus a Glória.
Ser “reformado” não é simplesmente frequentar uma igreja, decorar catecismos e confissões de fé. Não adianta possuirmos a melhor doutrina (ortodoxia) se ela não é capaz de nos fazer pessoas realmente diferentes na prática (ortopraxia). Com a intervenção do Espírito Santo, você hoje é também agente de grandes reformas na sua vida pessoal, na sua casa, no seu trabalho, na sociedade e na história das pessoas que Deus coloca ao seu redor ou sob seu cuidado.
Hoje não é Halloween! Hoje é o dia da Reforma; e o dia de reformar é hoje!
Em Cristo,
Presb. André G. Bronzeado

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