sábado, 20 de novembro de 2010

PROVAÇÕES E MATURIDADE CRISTÃ



“Meus irmãos, considerai motivo de grande alegria
o fato de passardes por várias provações,
sabendo que a prova da vossa fé produz perseverança;
e a perseverança deve ter ação perfeita,
para que sejais aperfeiçoados e completos,
sem lhes faltar coisa alguma”. (Tiago 1:2-4).

Ao escrever sua epístola, Tiago inicia sua série de ditos tratando de como nós cristãos devemos nos comportar nas oscilações da vida. Esse tema é extremamente pertinente para os crentes de todas as épocas, pois nos apresenta instruções de como devemos nos comportar nos momentos altos e baixos, na aflição na vida pessoal e na vida dos semelhantes, nas dificuldades econômicas e profissionais e em todo tipo de situação de dificuldade.

É natural que identifiquemos um paradoxo entranhado nas palavras de Tiago ao abrir sua carta. A mente humana naturalmente questiona que alguém possa ter “grande alegria” em momentos de desconforto. Isso é natural. Parece que o escritor bíblico nos estimula a suportar o insuportável. 

Precisamos lembrar que Tiago escreve tais palavras sob inspiração divina. Há um Deus soberano por trás de cada palavra; há um Deus que controla toda e qualquer tempestade e que deseja que saibamos que Ele usa até mesmo situações desconfortáveis como prova de amor e cuidado, objetivando nos moldar o caráter.

A tradição da igreja antiga nomeia como autor dessa epístola o irmão mais velho do Senhor Jesus, Tiago. O escritor saúda a Igreja do Senhor com alegria, informando-nos que, como cristãos, podemos e devemos nos alegrar nas provações. 

Tiago escreve às Doze Tribos da Dispersão, provavelmente cristãos dispersos por causa da perseguição que ganhava força a partir do ano 44 d. C. em Jerusalém, lugar onde ele desenvolvia um proeminente ministério pastoral. Parece que o autor escreve às suas próprias ovelhas dispersas, uma expressão de cuidado pastoral.

Ao tratar desse assunto, Tiago desconstrói todo e qualquer pensamento que expresse a idéia de que a vida cristã tem o clima de “mil maravilhas”. O escritor aponta na direção que os cristãos passarão por várias provações em suas vidas e devem encarar isso com contentamento e alegria.

Talvez os cristãos do primeiro século pensassem: “como seria bela a vida, se não existisse isso!” Atualmente ouvimos pregações mentirosas que atendem a este desejo humano e apresentam uma vida cristã sem problemas, sem sofrimento, sem cruz. 

Estamos vendo crescer uma geração de crentes que busca em Jesus Cristo apenas sua satisfação pessoal. Se olharmos para um lado enxergamos a teologia do “pare de sofrer”; se olharmos para outro lado assistimos a formação de um exército de “super-crentes”. Cria-se com isso a ideia equivocada de que crente não passa por problemas, dificuldades, desertos e tempestades na vida. Na mente de alguns, qualquer situação negativa aos olhos humanos na vida de alguém, pode ser sinônimo de sua vida pecaminosa oculta. “O que você anda fazendo?” - Quem nunca ouviu esta pergunta?

O fato é que o nosso Deus é soberano e usa as mais diversas e até amargas situações para nos ensinar e nos fazer crescer. Ora, de repente precipita-se sobre nós uma aflição vinda de forma inesperada como uma tempestade. Ficamos deprimidos e arrasados. Sentimo-nos solapados por ventos impetuosos e ondas ávidas por nos tragar. Nesse momento devemos orar ao Senhor com contentamento. Podemos até perder tudo, mas devemos desejar nunca perder a lição que esse sofrimento nos traz. O nosso Deus nos ensina: “[filhos], deveis e podeis vos alegrar com vossas tribulações”. 

O termo grego para “prova” é peirasmós e significa de um lado “tentação”, “sedução”, e de outro, “teste”, “provação”. Nesse contexto, o termo é utilizado para tratar de situações em que não é fácil permanecer mantendo nossa vontade submissa à vontade de Deus. De fato, não é fácil se manter alegre em situações difíceis que enfrentamos na vida. É importante, por outro lado, percebermos que nem todas as situações difíceis são “coisa do diabo”. É imprescindível percebermos que Deus usa diversas situações para nos fazer crescer em alguma área de nossas vidas e até mesmo para nos preparar para livramentos futuros. 

O próprio Satanás só age até onde Deus permitir. É preciso crermos firmemente na soberania do Deus ao qual servimos; Ele tem o controle de toda e qualquer situação, portanto, é necessário que descansemos nele com alegria, mesmo quando nos deparamos com uma incômoda provação.

Em situações difíceis, o inimigo comumente detecta uma chance para si, ao passo que ele visa nos levar ao ponto de nos separarmos da boa vontade de Deus. Sob esse aspecto a situação constitui para nós tentação, sedução. Deus, porém, deseja que também nessa situação preservemos para com Ele a confiança e obediência. Sob esse aspecto a situação torna-se para nós uma prova. O fato é que, como já dissemos, Deus usa até mesmo as provações para moldar nosso caráter, para nos fazer crescer, para nos aperfeiçoar. O inimigo tenta transformar momentos difíceis em tentações, para que caiamos; mas Deus visa transformar tais momentos em testes, para crescermos e sermos aprovados.

Nesse sentido, já é possível olharmos para as provações sob outra óptica. A verdade eterna que Tiago visa imprimir no coração de seus leitores no texto 1:1-18 é que Deus usa as provações como instrumento de bênção para que tenhamos maturidade cristã. Tiago nos leva então à reflexão de como devemos nos comportar em meio às provações da vida. À luz desta mensagem, que atitudes devem fazer parte de nossa conduta em meio às provações?

Primeiramente, devemos nos alegrar com as provações (v. 2-4). De forma imperativa Tiago chama a atenção dos irmãos ao fato que eles devem considerar motivo de grande alegria o fato de passarem por várias provações. Vejamos que o escritor faz uso de um imperativo (uma ordem): “considerai”. Outro detalhe importante que encontramos no texto é exatamente o fato que a alegria nas provações não deve ser vazia, mas sim uma grande e verdadeira expressão de júbilo. O texto enfatiza: “grande alegria”.

Embora essa ideia seja um inquestionável paradoxo, quando descobrimos a relevância e o propósito nos sofrimentos pelos quais passamos, entendemos o porquê de Tiago afirmar que devemos exultar de alegria quando passarmos por provas em nossas vidas.

É exatamente por não ser fácil de compreender esta verdade que inspirado por Deus Tiago nos informa a segunda atitude que devemos ter diante das provações, qual seja, devemos pedir sabedoria a Deus (v. 5-7). Ora, sabedoria é discernimento, aprendizado, prudência. Precisamos de sabedoria do alto para vermos além das circunstâncias terrenas. Carecemos de sabedoria para vermos nossas provações como um ambiente de amadurecimento em Cristo (v. 9-11). Sem a sabedoria de Deus - que é a fonte de toda sabedoria - seria impossível encararmos as provações com contentamento.

Fritz Grünzweig, ao comentar a epístola de Tiago, afirma com propriedade que “os cristãos favorecidos não são aqueles para os quais tudo corre às mil maravilhas, mas aqueles nos quais os testes se tornam cada vez mais difíceis”. É assim a vida cristã e por isso devemos pedir com fé sabedoria a Deus para encararmos as provas e entendermos qual o propósito de Deus.

Além disso, diante das provações devemos ser perseverantes (v. 12-15). O termo grego para “paciência” é hypomoné” e significa também “perseverança”, “constância”, literalmente que dizer “permanecer por baixo”, debaixo das condições difíceis, das tarefas onerosas, dos sofrimentos físicos e psíquicos etc. Nesse contexto, a Palavra nos adverte a permanecermos debaixo de Deus e de sua vontade, no lugar em que ele nos colocou, mesmo em meio às provações.

O fato é que as adversidades da vida nos fazem naturalmente perder a paciência. É no mínimo paradoxal, porém as adversidades nos fazem nos agarrar em Deus e nos desafiam a ter uma atitude de paciência em meio às situações difíceis da vida. Sabemos que podemos esperar em Deus nas provações. Deus nos socorre na aflição e, na hora certa, também nos ajuda a sair dela.

É interessante que Tiago nos versos 13-15 nos adverte sobre o fato que não devemos confundir provação com tentação. Isto ocorre porque na visão do inimigo as provações são uma chance para que ele nos induza à revolta contra Deus, ao ponto de nos separarmos da boa vontade de nosso Pai Celestial.  Por outro lado, porém, Deus deseja que nessa situação sejamos perseverantes preservemos para com Ele.

O fato é que Deus realmente usa as provações para moldar nosso caráter, para nos fazer crescer, para nos aperfeiçoar. Isso demonstra o quanto é necessário passarmos por provações e perseverarmos no Senhor, sabendo que Deus a ninguém tenta e Ele quer que suportemos as provações descansando na Sua soberana vontade.

Por fim, Tiago conclui dizendo que devemos entender que as provações objetivam nos aperfeiçoar (v. 16-18). Às vezes pensamos que sendo protegidos de situações conturbadas no nosso dia-a-dia teremos uma vida perfeita, porém a proposta de Deus é exatamente inversa: é justamente sob as muitas dificuldades que deve e pode acontecer que cheguemos ao alvo de uma obra vital redonda, completa e agradável a Deus.

Tiago afirma que “Toda boa dádiva... todo dom perfeito... vêm do alto e descem do Pai” e que “Ele nos gerou [...] para que fôssemos como os primeiros frutos de suas criaturas”, ou seja, Deus deseja que nós cresçamos em maturidade e intimidade com Ele para que sejamos perfeitos. Os comentadores da Bíblia de Genebra apontam para o fato que “A humanidade redimida é o ápice da criação de Deus”. Deus deseja que cresçamos, que nos santifiquemos, que sejamos irrepreensíveis.

O que está em jogo diante de Deus não é apenas o que realizamos, mas sobretudo o que somos. Em seu dia nosso Senhor deseja apresentar irrepreensíveis as pessoas que lhe foram confiadas pelo Pai, a si mesmo e depois ao Pai, como pessoas inteiras. O apóstolo Paulo escrevendo aos filipenses afirmou: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6). Aos tessalonicenses o apóstolo escreveu: “O Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis no futuro de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama; o qual também o fará” (1Ts 5.23s)

Portanto, caro leitor, concluímos que de fato devemos considerar motivo de grande alegria quando passamos por provações, pois elas são o sinal de que Deus deseja nos tratar e nos proporcionar maturidade como seus servos. Mais do que isso, as provações são uma demonstração que Deus nos ama e se importa conosco. Devemos, pois, nos entregar a Deus, nosso Pai, entendendo que as provações são uma necessidade e devem produzir em nós alegria, busca por sabedoria do alto, perseverança e aperfeiçoamento. 

André G. Bronzeado

3 comentários:

Anônimo disse...

Meu querido irmão André, que postagem maravilhosa. Verdadeiramente ao longo de nossa trajetória de vida, como crentes, devemos entender verdadeiramente que não há e nunca haverá vitória sem luta. As provações nos moldam, nos fazem perfeitos para a Glória de Deus. Deus continue te abençoando ricamente!

JOELSON GOMES disse...

Parabens Dr.

Anônimo disse...

Olá meu querido Irmão Graça e Paz.

Muito edificante este seu blog. Aproveito a oportunidade para compartilhar com o irmão uma Mensagem Edificante para Alma.
Aprendendo uns com os outros crescemos na Graça e no conhecimento. Deus te abençoe ricamente
Josiel Dias
Rio de Janeiro
Mensagem Edificante para Alma
http://josiel-dias.blogspot.com