Não resta dúvida que a proposta de viver em unidade é um grande desafio para as pessoas. Ora, unidade é a qualidade ou estado de ser um, é algo que não pode ser dividido. Olhando para os seres humanos totalmente distintos entre si e imaginá-los vivendo em unidade contraria totalmente a nossa lógica mergulhada nos interesses egoístas, nos valores distintos e nos múltiplos conflitos que comumente fazem parte da vida em sociedade. Enfim, o fato é que toda comunhão humana está sempre ameaçada.
O Direito, como ciência humana, presta grande serviço à vida em sociedade ao passo que busca dirimir os conflitos humanos objetivando aplicar a Justiça que, em síntese, é dar a cada um o que é devidamente seu. Como se vê, as Ciências Jurídicas têm os olhos voltados para os conflitos humanos, ratificando que a vida em grupo ou em sociedade é refém dos encontros de interesses que quase sempre são diferentes, aumentando a distância entre as pessoas.
Viver nesse clima de separação, de oposição à convergência de interesses, não é novidade ou coisa da pós-modernidade. É lógico que vivemos em uma sociedade cada vez mais egoísta, onde as pessoas só olham para seus próprios interesses. As crises internacionais são um exemplo claro do quanto a humanidade é dividida. Porém, todo este fenômeno egocêntrico e separatista teve seu início no Éden. A sociedade da época era formada por Adão e Eva, nossos representantes federais. É interessante que após a queda o clima de unidade entre nossos primeiros pais foi quebrado ao passo que o homem disse: “A mulher que tu me deste deu-me da árvore, e eu comi”. Adão parece viver uma crise no seu relacionamento com Eva; nesse instante ele não se lembra da declaração poética “... osso dos meus ossos, carne da minha carne”. Agora ele a olha com negativismo e como se não fosse uma só carne consigo.
Pois bem. Em contrapartida a esta realidade, Deus nos apresenta a vida em unidade como algo agradável aos Seus olhos. O que dizer da excelência da união fraternal como é apresentada no Salmo 133? “Como é bom e agradável os irmãos viverem em união” – diz o salmista Davi. Quantas expressões “uns aos outros” encontramos da Bíblia? São inúmeras expressões como esta que denotam a beleza da comunhão e da unidade entre irmãos. Não bastasse tudo isso, ao repousar nossa atenção na Oração Sacerdotal de Jesus no capítulo dezessete do Evangelho Segundo João, encontramos nosso Senhor orando para que os que criam nele e os que viriam a crer no futuro fossem unificados, ou seja, vivessem em unidade.
Ora, assim orou o Senhor Jesus: “E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que virão a crer em mim pela palavra deles, para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” – (João 17:20,21). Veja que Jesus ora pela unidade dos seus discípulos, bem como para que um dia sejam reunidos a Ele.
Em sua Oração Intercessória, Jesus inclui todos os cristãos, até mesmo aqueles que iriam receber a fé no futuro. Isto demonstra também que Jesus estava levando em conta o grande fenômeno que aconteceria a partir do momento em que os discípulos começariam a pregar o Evangelho, ou seja, eles iriam ser instrumentos para a implantação da fé nas pessoas.
Jesus também ora para que seus discípulos sejam um fazendo um profundo paralelo com a Trindade, ou seja, Jesus chega a usar como paradigma para a unidade de seus discípulos a unidade que possui a Santíssima Trindade. É importante que se diga que ao fazer isso Jesus reconhece que, como seres humanos, temos muita dificuldade de vivermos relacionamentos verdadeiros uns com os outros. É fato que toda comunhão humana está sempre ameaçada.
Aqui é que encontramos o grande desafio: não devemos anular nossas particularidades; somos diferentes, fomos feitos assim pelo próprio Deus. Somos diferentes em maturidade, em percepção, em conhecimento, em personalidade, etc. É exatamente nessa diversidade que o amor atua. O desafio está em viver a unidade na diversidade!
Anote-se que viver em unidade não é apenas benéfico aos discípulos, mas também possui um significado importantíssimo para o serviço a Deus, ao passo que nossa unidade se torna um testemunho eficaz aos outros. Percebamos que Jesus declara: “Para que o mundo creia que tu me enviaste”. Ou seja, a unidade da Igreja do Senhor é um fator imprescindível para um testemunho eficaz diante de todos os homens.
A Igreja do Senhor, embora formada por pessoas diversas, deve ser um corpo bem articulado vivendo em total unidade. Mesmo sendo diversos, precisamos ser um, precisamos ter o mesmo propósito, precisamos observar a grandeza do que nos une e colocar de lado tudo aquilo que nos separa. Para quê separar, se podemos nos unir? Por que dar tanto valor ao que nos separa se podemos focar nossas atenções naquilo que nos une? Fomos resgatados das trevas pelo Senhor, reunidos na Igreja que é o Corpo de Cristo para vivermos – unidos – para a Sua Glória.
5 comentários:
Querida Alma Magra em Cristo
Você tem toda razão. Necessitamos de maior unidade.
Santo Ósculo em seu coração!!
Olá André. Gostaria de te parabenizar pelo maduro e centrado texto sobre unidade. Achei muito válida sua proposta de se tentar manter a unidade apesar da diversidade. O que, para muitos, é tarefa tida como difícil. Não é à toa hoje as milhares de denominações. Realmente toooodos são diferentes, pensam muitas coisas no campo das idéias até mesmo opostas. Mas o maior dom de Deus é o amor (que inclui todos os frutos do Espírito).
Tenho aprendido muito isso sabe. A arte de conviver e apostar em vidas em detrimento de muitas das posições teológicas (e até anti-teológicas) que eu tenho. Hoje sou mais focado em pontos de conexão do que nos pontos de divergências. E isso tem me dado a dádiva de conviver com gente tão bacana sabe. Gente que, de fato, se eu fosse levar em conta corrente doutrinária x ou y tornaria nossa convivência quase impossível.
Existe a possibilidade de resolver as diferenças no âmpito do diálogo sem necessariamente levar a coisa pro lado pessoal? Outra pergunta: Quando Paulo fala para todos terem "um só pensamento", o que ele realmente quiz dizer? Será que todo mundo tem necessariamente que pensar de forma "uniforme" para só assim se poder conviver? Bem, deixo essas perguntas pra gente mais versada na teologia do que eu. No caso vc meu nobre amigo!
Grande abraço!
Olá Facundo! Saudades rapaz. Olha, acredito que todo diálogo tem que ser levado para o campo do respeito. Não há sentido para diálogo sem respeito, mesmo que não concordemos com o outro ou ao contrário. O que se deve considerar é que nos é legítimo ter nossas convicçoes. Podemos discutir, dialogar, pensar juntos, discordar, porém, é imprescindível respeitarmos o direito que temos de pensar, de crer. Quanto ao assunto de Paulo, é interessante notarmos que a ênfase não está em sermos todos iguais, afinal isto é impossível. O fato é que no discurso de Paulo ele lança o sentimento ápice da igreja de Cristo: precisamos ter o mesmo propósito (não gosto muito dessa palavra). Ou seja, nosso alvo deve ser o mesmo, o nosso fim supremo é o mesmo. Vejo nesse sentido. Muito obrigado por sempre participar do Blog. O cristianismo precisa de pessoas como você. Paz!
Boa Noite!
Sempre que posso leio seus textos e os admiro.
Queria te repassar um e-mail que recebí para que vc analizasse e na medida do possível o interpretasse.
Vc pode me informar o seu e-mail?
Grato!
Ao leitor Fábio, agradeço por acompanhar este Blog. Muito obrigado! Quanto ao e-mail: andre.bronzeado@yahoo.com.br
Muito obrigado.
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